Jose Mastrangelo*
A senadora Marina chora. Com a dor no peito e as lágrimas regando o seu rosto contraído, lamenta a saída do Partido dos Trabalhadores – PT. Sorrindo, filia-se ao Partido Verde – PV. Chico Mendes não chorou. Em tempo, conteve as lágrimas. Numa manhã escaldante de agosto de 1988, às 11 horas e trinta minutos, antes de embarcar num táxi aéreo, que o levaria a Feijó, município do interior do Estado do Acre, “in off”, confessou o descontentamento com o PT e o desejo de filiar-se ao PV. Soube, posteriormente, que Chico Mendes havia desistido de sair do PT, após uma conversa, que teve com a direção do PT nacional, em São Paulo. Em dezembro de 1988, Chico Mendes foi assassinado em sua própria casa. Os companheiros e as companheiras do líder sindical choraram o seu último empate. Morto, com Lula presidente, Chico Mendes vira herói nacional.
O PT chega ao Planalto central com Lula presidente. Lula cresce em popularidade, enquanto decepciona profundamente membros históricos de seu próprio partido. Lula dribla o PT e...goool! Cria o PT de Lula, que acoberta Sarney, Collor e outros quadrilheiros da República. Deixa de hastear a bandeira do socialismo estrelado para, ao lado de figuras políticas abomináveis e da maior periculosidade, cantar o hino do conservadorismo retrógrado, perverso e desumano. Engaveta o macacão sujo e fedorento de operário metalúrgico para vestir ternos de linho, de marcas famosas, da alta costura mundial. Joga por debaixo do tapete a sujeira acumulada de atos de corrupção e de crimes, que precisam sair de baixo do tapete para serem esclarecidos. Faz chorar. “É uma vergonha!”, declara o senador Flávio Arns, antes de sair do PT.
Inúmeras lideranças do PT choram por ter que sair do partido, onde sonharam que outra sociedade seria possível.
O PT perde a sua própria identidade, que o consagrou como um partido diferente e eticamente limpo. Com Lula presidente, se transforma. Nivela-se aos partidos tradicionalistas, da pior espécie. A sua ideologia vira fisiologia auspiciosa, que é flexível, segundo a oferta mais lucrativa de dividendos e benesses.
O PT fez sonhar milhões de brasileiros, que hipotecaram fé e esperança em troca de uma vida melhor. Algumas de suas mais expressivas lideranças, contudo, não se deixaram levar pelo encanto do poder. Desencantadas, choram. Sem abandonar a rua que, simbolicamente, representa o lugar de encontro do povo, marginalizado e excluído, procuram outras casas (partidos) para continuar sonhando.
A senadora Marina merece um destaque especial. Acaba de sair do PT. Chora. No último dia 30 de agosto, filia-se ao PV. Durante mais de duas décadas, ajudou a construir o PT no Estado do Acre. Chegou a ser ministra do governo Lula por mais de seis anos. É uma figura política conhecida pela sua luta em defesa do meio - ambiente. A sua fama ultrapassa as fronteiras nacionais. As suas lágrimas, contudo, têm origem em outras fontes. O seu partido (PT) tomou o caminho das conveniências no Estado do Acre, ao fazer concessões ideológicas em troca de apoios eleitoreiros. Virou Arena (partido que deu sustentação à ditadura militar do golpe de 64). Assinou pactos com indivíduos que, outrora, havia demonizado e criminalizado. O som de sua consciência, no entanto, tocou mais alto. Preferiu voltar para a floresta, embrenhar-se nela e tocar o verde da natureza que, in natura, é mais encantadora.
Lula dribla o PT e...goool! Acaba com o PT histórico e ideológico. Compensa o sonho que, por muitos anos, sustentou mentes e corações de milhões de brasileiros na imaginação de um mundo melhor, com a oferta da bolsa - família. Sobe em popularidade, enquanto aumenta o número de pobres, que mendigam em estradas, ruas e praças. Aperta a mão do conservadorismo retrógrado, perverso e desumano, que tanto males causou ao Brasil. A sua tendência articuladora e calculada impressiona. Dá frutos. Até o império norte – americano ajoelha-se perante o encanto de Lula. Que goool de placa!
*Jose Mastrangelo é Filósofo e Teólogo
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