segunda-feira, 5 de maio de 2008

Vida de celebridade

Francisco Dandão*

Vida de celebridade não é nada fácil. As criaturas ganham muito bem, sorriem colorido nas bancas de revistas e nas telas mágicas dos televisores, mas não tem um minuto de sossego. Se for jogador de futebol, mais difícil ainda. Não pode escorregar no tomate de jeito nenhum. Bobeou, por qualquer coisinha, e os podres são estampados nas manchetes.

Os fotógrafos marcam de perto. São piores do que aqueles volantes de times do interior, sem praticamente nenhuma intimidade com a bola. Fungam no cangote da criatura os noventa minutos (eca!). Como nas boas peladas de campos enlameados, em dias de intensa tempestade, como se diz em claríssimo português, “do pescoço para baixo tudo é canela”.

Do dia para a noite (com a madrugada devidamente inserida no meio do “contexto cultural”), reputações aparentemente sólidas, devidamente construídas durante anos nos gramados do planeta, podem escorrer pelo ralo de um banheiro público até o esgoto mais próximo. Um deslize inconseqüente ganha ares de tragédia grega, verdadeiro tsunami moral.

Não importa o quanto o sujeito foi importante nem as alegrias que ele já rendeu para os basbaques de toda a espécie. Ninguém quer nem saber disso. Importa, isso sim, que da criatura na berlinda se exige um comportamento acima de qualquer suspeita. Craque no campo (ou nos palcos) tem que se comportar exemplarmente, que o diabo está à espreita.

Essa história do Ronaldo Fenômeno com os travestis é o exemplo mais recente disso que eu estou dizendo aqui hoje. Não importam as razões do craque para esse comportamento, digamos, pouco ortodoxo. O que importa e que ele foi flagrado com a “boca na botija”, “com a mão na massa”, literalmente “trocando as bolas” (tudo força de expressão, viu?).

Antes do escândalo, dessa gritaria toda que o planeta ensaiou, penso que a gente deveria era tentar entender as razões do jogador. Averiguar se “por trás do fato” (perdão!) não haveria algo mais profundo do que algum tipo de garganta. Se ele for míope, por exemplo, não estaria perfeitamente justificada a confusão entre os supostos gatos e as efetivas lebres?

Ou então, na atitude dele não estaria implícito tão somente um incontido desejo de “bater umas bolas” com quem entende do assunto, dado o tempo em que se encontra afastado dos gramados, em função do joelho “bichado”? Não poderia tudo ser apenas algum tipo de conspiração da Nike, para que o Brasil permaneça eternamente como pentacampeão?

Ronaldo não teria sido “picado” (calma aí!) pelo mosquito da dengue, tão prolífico atualmente em terras cariocas? Não seria uma pesquisa para saber qual a sensação dos zagueiros quando levam “bolas nas costas”, após um lançamento preciso? Creio que nunca saberemos. Mas penso que tudo é possível, principalmente na vida de uma celebridade!

* Professor de Comunicação Social e colunista do site Folha do Acre.

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