sábado, 3 de outubro de 2009

TRÔPEGAS IDÉIAS

Francisco Dandão*

A primeira idéia para a crônica de hoje se imiscuiu entre as minhas orelhas no meio da semana (na quarta-feira, mais precisamente), quando eu fiquei sabendo que o presidente da Fifa, o vetusto e ilustre economista Joseph Blatter, declarara que a “paradinha” na hora da cobrança do pênalti era uma jogada de cunho irregular e, assim, estava com os dias contados.

Nada mais justo, pensei de imediato. Afinal de contas, a paradinha denota um ato de verdadeiro logro do atacante, que já está naquela hora fatídica em posição mais do que privilegiada, contra o coitado do goleiro, mais do que nunca dialogando com a profunda solidão na qual mergulha a sua alma atormentada. Covardia, na mais pura expressão da palavra.

Tudo bem, tá certo que o goleiro é o anti-herói do jogo, o cara encarregado de evitar o lance que traduz a essência do futebol. E tá certo igualmente que o goleador é o sujeito que faz a galera explodir de alegria e esquecer as agruras do dia a dia. Entretanto, ainda assim, a despeito de tudo isso, a paradinha parece, de fato e de verdade, uma grande sacanagem.

A noite de quinta-feira, porém, me fez mudar de idéia quanto ao tema da crônica. Ver o Fluzão goleando alguém (mesmo que um time de amadores peruanos), pensei em estado de graça, depois de um longo e penoso jejum, era um bom motivo para cometer algumas quantas (tontas talvez, por momentânea embriaguez) linhas de louvor ao dono da lanterna.

Paixão, é certo, não combina com razão. E então, com todas as rimas do mundo, mesmo não sendo música, por que não imaginar que daqui pra frente tudo vai ser diferente, o Tricolor das Laranjeiras vai deslanchar no game, entregar a última colocação para o Sport Recife, galgar posições no campeonato brasileiro e, suprema glória, conquistar a América do Sul?

Um sonho para durar pelo menos até as duas próximas partidas (contra o Flamengo, pelo Brasileirão, e contra o Cerro Porteño, pela sul-americana). Ou então, caso já tenham encontrado o sapo enterrado pelos vascaínos (eles querem companhia na segunda divisão) no velho estádio da Rua Álvaro Chaves, um sonho pra ser sonhado de olhos bem abertos.

Trôpegas idéias para a crônica, eu fui perceber por volta do meio-dia de sexta-feira, quando os apresentadores dinamarqueses anunciaram a vitória do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016, derrotando ninguém menos do que cidades de nações tidas como do primeiro mundo, casos de Chicago (Estados Unidos), Tóquio (Japão) e Madri (Espanha).

A melhor idéia para escrever a crônica, inclusive (ou principalmente) pelo caráter temporal do texto, é sempre a última. Fora isso, o certo é que, fazendo uso de uma metáfora criada por Nelson Rodrigues, embora ainda falte muito para o Brasil deixar de lado por completo o seu complexo de vira-lata, parece que o país já começa a querer latir como cachorro grande!

*Dandão é jornalista e doutor em Comunicação Social.

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