segunda-feira, 16 de maio de 2011

VAMOS FALAR DE PIRATARIA

Sergio Santos*

Ouço constantemente os políticos, os artistas e um grupozinho de pessoas que condenam a pirataria e tratam como crime. Crime? Duvido muito. Na verdade, discordo que o seja. Crime é pagar para o brasileiro o salário de fome que se paga; crime é permitir que a gasolina – num país que é auto-suficiente em Petróleo – chegue a ser a mais cara do mundo; crime é fazer o brasileiro, que já ganha uma miséria, pagar o maior tributo do mundo. Acho que a noção de crime deve ser revista.

A pirataria, da qual eu levanto a bandeira e a defendo, é o mais perfeito retrato de um país desigual e corrupto, além de ser um grito dos excluídos para os que ditam as regras e distribuem ridiculamente a renda que faz do Brasil um país emergente.

Pergunto a você, leitor, quem é o cidadão que ganha um salário mínimo no Brasil, que tem de pagar contas de luz, água, gás, além de comer, vestir e manter filhos em escolas; que pode comprar um CD original por 40 reais (quando é simples) ou 70 (duplo)? Quem pode, com essas condições financeiras, comprar um DVD por 70 ou 90 reais? Eu mesmo respondo: ninguém. Se esses produtos são consumidos, não é, com certeza, pela maioria da população brasileira, que ainda rala muito para conseguir comer e sobreviver. No Acre, por exemplo, temos ainda de considerar que mais de 30% do salário vai para o decrépito transporte público.

Agora me vêm pessoas falando do crime que se comete com a pirataria no Brasil, e do quando se deixa de arrecadar por causa disso. E querem arrecadar mais para quê, se o resultado de tanto imposto não chega aos lares brasileiros? Ridículo esse discurso do combate à pirataria, e ainda mais ridículo é dizerem que a pirataria “patrocina” o crime organizado no Brasil, quando todos sabem que quem mantém o crime organizado é o tráfico de droga, o qual a polícia do Brasil nunca conseguiu combater, talvez por que parte dela, em função dos salários ridículos, dependa do crime para ter segurança e condições de cuidar de sua família.

O pior de tudo é dizer que a pirataria é um crime contra a cultura, quando ela faz o que o Brasil, com sua política cultural deficiente nunca conseguiu fazer: levar cultura aos menos favorecidos. Se hoje as pessoas assistem aos filmes nacionais, é por causa única e exclusivamente da pirataria, que consegue chegar a essa maioria de pessoas carentes não apenas de grana, mas também de cultura. Sem a pirataria, as pessoas simplesmente não conseguiriam ouvir música brasileira, e seriam obrigados a ouvir aquilo que a mídia força. A cultura deve ser sempre uma escolha, uma forma de o sujeito interagir com aquilo que ele considera como parte de si, como um algo que lhe traduz, expressa.

Quanto ao cinema, com a pirataria, as pessoas passaram a assistir a filmes brasileiros, os quais sempre sofreram com a máquina americana de produzir filmes e dinheiro (pra eles). Quem está disposto a pagar R$ 18,00 para ver um filme com péssimas condições no Cine João Paulo, por exemplo? Ainda nos parece mais proveitoso pagar R$ 10,00 por 3 filmes e os ver em casa, mesmo que se corra o risco de “danificar” o seu precioso aparelho de DVD, que custa mais barato que um DVD original. Agora, que o cinema é visto por muitos brasileiros, querem questionar a forma como estes têm acesso a essa cultura. Volto a dizer: a pirataria permitiu ao pobre ter um pouco de cultura, mesmo sendo de massa. A internet, que é a grande possibilitadora disso tudo, tornou-se o instrumento de inclusão cultural, permitindo e levando aos pobres o que antes era restrito a pequenos grupos. E sabe por que os produtores de cinema e música no Brasil e no mundo condenam a pirataria? Porque estes recebem salários milionários e não compreendem o que é viver com um salário mínimo. E sabe quando eles realmente vão abrir os olhos para a pirataria? Quando seus salários milionários diminuírem por causa dela, o que ainda não tem acontecido. Quando isso acontecer, talvez eles desçam de seus pedestais – ou calçadas da fama – e vejam que a pirataria é apenas uma forma que as pessoas pobres têm de adquirir cultura num mundo em que ser culto custa muito caro.

Agora, viveremos a era em que os e-books vão fazer pelas pessoas o que o Brasil nunca fez: levar livros “baratos” ou “de graça”, de modo que todos agora poderão ler os livros que antes também se restringia a um grupo ainda menor que os dois primeiros. Quem pode ler um Saramago ao preço de R$ 60,00? Não com certeza o assalariado brasileiro.

É hora de repensarmos a política cultural no Brasil e combater a pirataria não a tratando como um crime, o que é impossível de se fazer, mas dando às pessoas que precisam de cultura a possibilidade de elas a adquirirem por meios lícitos, se assim o consideram. É baixando os impostos, os preços dos produtos culturais, pagando salários decentes que vamos conseguir levar cultura aos alimentadores da pirataria. O Brasil tem uma nítida crise cultural porque as pessoas anseiam por arte e o país não tem condições de levar a todos. E depois vêm falar de inclusão cultural e “os cambau”. Enquanto no Brasil as coisas funcionarem assim, levanto a bandeira da pirataria e afirmo que ela é a melhor forma de inclusão cultural.

Alguém duvida? Prove-me o contrário.

*Sergio Santos é professor de Língua Portuguesa na UFAC e, nas horas vagas, é escritor

sábado, 23 de abril de 2011

VOCÊ É LINDA

sexta-feira, 22 de abril de 2011

VAMOS FALAR DE EDUCAÇÃO?

Sergio Santos*

Vamos falar de educação. Mas não vamos falar do velho discurso de que o país só vai evoluir quando tiver educação de qualidade, pois isso é um clichê, embora mantenha ainda o valor de verdade. Vamos falar sobre o que as pessoas – principalmente os governos – pensam sobre educação.

Não sou um homem velho, tenho apenas 30 anos; mas me sinto, muitas vezes, antigo – e podem dizer alguns até antiquado. Sou do tempo em que a Educação (vou grafá-la com maiúscula por respeito e devoção) podia até não valer tanto, mas era feita com certa responsabilidade. Hoje, contudo, vejo que ela, assim como as estradas, são meras possibilidades para promessas de políticos que não estão, e nunca estiveram, interessados em “revolucionar” (desculpem a palavra próxima) porra nenhuma.
Sou de uma época em que o professor, mesmo sem o “grande salário” de hoje, era uma figura respeitada; seu ofício nos fazia até relembrar os velhos filósofos que se distinguiam dos outros pela importância que tinham. Educação já foi, em áureos momentos, a transmissão do conhecimento, o enriquecimento da alma do sujeito, a construção do indivíduo, o prazer pelo ofício primeiro das profissões. Se ninguém vai ao pai senão pelo filho, ninguém vai à profissão senão pelo professor, que é o responsável por parte da construção do indivíduo, pela formação mesma de suas ideias, de seu comportamento, de sua posição diante dos fatos do mundo. Pode parecer romantismo didático, mas o professor tem uma importância fundamental na vida de cada indivíduo que passou pelos bancos de uma escola.

Entretanto, vejo com muita desolação a forma como tem sido tratado o professor hoje em dia. Dizem – pelo menos por aqui – que ele tem um bom salário. Mas quem disse que é isso que faz do professor um profissional realizado? Se a remuneração fosse a mola propulsora do indivíduo que passa no mínimo 4 anos fazendo uma faculdade para exercer o ofício de professor, ele já teria mudado de profissão, pois há outras que pagam muito melhor. A escolha da profissão está inegavelmente na paixão em ensinar – se alguns estão lá não por isso, devem ser infelizes ao dobro dos que sofrem por essa paixão.

Os governos acreditam que Educação se faz com bons salários e escolas bonitas. Ledo engano, queridos, Educação se faz com profissionais respeitados e valorizados. O respeito está em aceitar o que o professor diz, em acreditar nele, em aceitá-lo com ele é, sem querer que ele seja como o poder quer que seja. A liberdade do professor é tão fundamental quanto o da imprensa. Contudo, no Acre, não se tem visto nem uma coisa nem outra. Pergunte a qualquer professor da rede estadual e municipal se ele se sente livre para exercer o seu ofício. A resposta será unânime: “Temos de fazer o que nos mandam”. E o que eles – os governantes mandam? Ora, a resposta é simples: “Melhorem os números!”

Ah, os números! Será que vivemos na era matemática? Provavelmente! Pelo menos é o que se tem sentido por essas bandas daqui. O que passou a ser Educação foi a estatística. Hoje, não interessam – talvez só ao professor – se as pessoas estão aprendendo alguma coisa, se estão se dando conta de quem são, se percebem o mundo que as cerca. Hoje só se fala em número: foram alfabetizados tantos, tantos entraram na universidade, tantos milhões foram investidos na educação, tantas escolas foram feitas. Vivemos a era da Educação midiática, pois os dados são expostos nela, como se refletissem de fato a qualidade necessária para a formação do cidadão. Para tanto, criam-se programas de Educação para “arrumar” os números e “corrigir” a vergonha de um estado com tanta gente sem diploma. Poderiam economizar muito se só entregassem os diplomas, sem a necessidade de expor professores e alunos a situações degradantes como a farsa da Educação para jovens e adultos.

Dirão que sou contra educação de jovens e adultos e direi: não sou contra, sou a favor de Educação de qualidade para todo cidadão brasileiro, sou a favor do respeito por todos aqueles que pagam o maior tributo do mundo, sou a favor da valorização da construção do indivíduo, que precisa ser educado para poder se defender nesse mundo cada vez mais cruel e descarado. É ridículo pensarmos numa educação de qualidade quando os professores são obrigados a ensinar todas as matérias para os alunos, sendo que este profissional passa no mínimo 4 anos se especializando numa área para poder ter domínio do seu ofício. É ridículo “eles” – e todos sabem quem são eles – exigir que o professor não reprove ninguém, pois a “nova pedagogia” não mais assim e tal. A “nova pedagogia” uma ova! Não sabem nem o que é pedagogia. Falando sério: quem é “deles” que de fato entende de educação? Vamos ainda mais longe: quem “deles” tem filhos matriculados em escolas públicas? Na verdade, a maioria dos filhos “deles” nem estudam no Estado. Isso é a prova definitiva de que nem “eles” acreditam mais na Educação que tanto defendem.

Hoje, ao conversar com ex-alunos, deparo-me com a situação ridícula de professores recém-formados que não conseguem mais vagas para trabalharem no Estado ou nas prefeituras. Qual será o motivo? São vários, mas destaquemos dois: primeiro, a necessidade de dizer a todos que, por mais que eles (os professores) agora tenham diploma, quem manda ainda são “eles” – aqueles que sabemos quem são; segundo, para que contratar profissionais capacitados se não “eles” querem pessoas capacitadas? O certo é que hoje o Acre tem uma enxurrada de professores formados e sem empregos, mesmo depois que o Governo, em parceria com a Universidade, tenha lhes oferecido Nível Superior. Há algo a se acrescentar: pagar professores formados para trabalhar na zona rural, por exemplo, custa caro. Se é para ensinar no meio da mata mesmo, que pague a qualquer um! Esse é o pensamento visível “deles”.

Poderíamos falar ainda mais sobre Educação, mas paremos aqui para refletir sobre o que foi dito, sé o que foi dito servir para reflexão. Mas, enquanto as coisas não mudam por aqui, façamos cada um a nossa parte, lutemos sempre.

*Sergio Santos é professor de Língua Portuguesa na UFAC e, nas horas vagas, é escritor

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A TRAGÉDIA CONTEMPORÂNEA, A NOVA FORMA DE DIVERSÃO

Sergio Santos*

Que o ser humano tem tendência natural para a tragédia, isso já é sabido, mas andamos exagerando ultimamente. Se não bastassem os terremotos, os tsunamis, as enchentes, e todos os fenômenos naturais que assolam o mundo, estamos investindo duramente em novas formas de tragédias, como os assassinatos, os saltos de pontes, os assassinatos em massa de crianças indefesas. A impressão que se tem disso tudo é que antes – talvez isso sejam sensações dos saudosistas – não havia tanta violência. Violência sempre houve. Basta lembrar a saga de Cristo e do extermínio de milhares de pessoas nesse mundo por várias questões, principalmente as religiosas. Sem deixarmos de falar das guerras, das pequenas às grandes, das que duraram meses, das que passaram dos 100 anos.

Estamos travando novas guerras, as individuais, pois lutamos conosco mesmos, fazendo de quem está próximo o nosso inimigo, como se já não bastassem os inimigos que não conseguimos combater, como a fome, a má educação, os impostos, o preço da gasolina, as filas nos hospitais públicos – porque não tem mais valido a pena pagar plano de saúde – , o cinismo de alguns políticos. Talvez essas guerras que travamos, fazendo surgir novos criminosos, aconteçam porque não conseguimos lutar contra o que nos é mais forte e invisível, o tal sistema, que nos iguala em deveres, mas nos distingue em direitos, pois ainda sabemos que o dinheiro é a forma mais prática de poder. Se isso é um motivo, não sei ao certo, mas preciso encontrar uma resposta para tanta tragédia. E nessa luta em que nos defendemos de algo que nos assusta sem necessariamente sabermos o quê, agimos com tanta violência, que assustamos a nós mesmos.

Quando abrimos os jornais diariamente, não conseguimos mais somar a quantidade de crimes – muitos bárbaros – , como o rapaz que foi esfaqueado tantas vezes, o homem que foi “alvejado” com não-sei-quantos tiros, ou o rapaz que sumiu nas águas do rio Acre. Pior que saber dos fatos, é vê-lo, pois as imagens aterradoras estão expostas na internet. Aliás, falando de internet, que instrumento maravilhoso para apreciarmos de perto a tragédia humana. Antes, restringíamos a ver uma foto em preto e branco da carteira de identidade da vítima. Agora, vemos a própria ferida, como as “rosas cálidas” do poema do Vinícius. Nossos olhos brilham diante das imagens nossas de cada dia, pois estamos nos acostumando a vê-las, fazendo delas um objeto de desejo, assim como faziam os expectadores das tragédias gregas. Essas eram inspiradas nos deuses e tinham um certo ar de sublime, de superior, de maior. As nossas não! São humanas e reais. As medeias se espalharam pelo mundo, e os Apolinices não necessariamente apodrecem ao relento, mas são expostos tal qual o irmão de Antígona, morto em combate por poder. Se Creonte, na obra de Sófocles, pune o atrevido Apolinices deixando seu cadáver exposto para que se visse sua degradação – a visão mais aterradora do ser humano – , nós clicamos para ver essa cena se repetir diariamente, fazendo com que percamos o medo ou não sintamos mais náuseas. Tudo isso muito provavelmente porque “a dor dos outros não sai no jornal” – o Chico tava certo. Talvez se a dor saísse nas páginas dos jornais ou nas imagens da internet, não nos tornaríamos expectadores de tanto horror.


Hoje, caminho – e quando caminho – com medo de ser mais uma personagem das novas tragédias. Sei lá! De repente alguém pode achar que sou feio para o padrão vigente e me “alvejar”, aliás, verbo que já faz parte das nossas vidas, assim como a expressão “os populares”, que equivalem aos expectadores das cenas, se não no momento de ocorrência, pelo menos segundos depois dela. Uma coisa é certa: gostamos mais de ver a desgraça alheia do que mulher pelada ou um famoso no auge de sua fama. Basta passarmos perto de algum acidente ou crime para vermos a quantidade de pessoas que cercam a cena e se deliciam com a sensação do visto ao vivo. Parece até a música do Mílton em cuja letra se lê que “o artista vai onde o povo está”. Nesse caso é o espetáculo que vai atrás do público, visto que as tragédias diárias acontecem a todo instante e tem sempre expectadores a postos.

Poderia ainda falar muito sobre o nosso lado trágico, do nosso prazer pela dor alheia. É, tornamo-nos sádicos sem sequer saber quem foi Sade. Mas prefiro parar por aqui e refletir sobre o que vem pela frente – pedindo a Deus que nos permita estar vivos para ver ou para nos fazer perder o gosto de ver tantas desgraças. Seria muito bom se conseguíssemos nos emocionar mais com uma medalha olímpica do que com os tiros que alvejaram fulano de tal – e quando falo de emoção falo da emoção do prazer, porque a emoção do medo e do terror já não conseguimos mais sentir. É isso!

*Sergio Santos é professor de Língua Portuguesa na UFAC e, nas horas vagas, é escritor

segunda-feira, 4 de abril de 2011

PATETÃO

Após alguns meses sem atualizar este blog, retorno com o flagrante do jornalista Altino Machado, feito neste domingo,3, ao me fotografar na Pizzaria do Patetão, localizada as margens da Miami Beach Tupiniquim , contemplando (irado) bêbados que se acham a última bolacha do pacote de Miragina com seus carros de som no volume máximo. É de lascar.

Só mesmo sendo um pateta para continuar ali.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

OS CARGOS NA ADMINISTRAÇÃO E A MORALIDADE

Dirceu Cardoso Gonçalves*

Ao discutir e brigar, como ave de rapina, pelo loteamento dos cargos na administração, a classe política brasileira, inclusive os governantes, joga na lata do lixo seu prestígio e o compromisso com a causa pública. E sua reputação marcha para o esgoto. Criados com a finalidade de servir à administração e atrair temporariamente ao serviço público as inteligências que possam contribuir para o bom desempenho da máquina através de seus conhecimentos e experiência, os postos de livre nomeação e até as chefias - que deveriam ser exercidas pelos funcionários mais experientes e capacitados - transformaram-se na mais reles e perversa moeda de troca política. Em vez dos capacitados, são nomeados aqueles que têm QI (quem indica), mesmo em sendo verdadeiros mentecaptos. Eis aí, uma das mais cruciais e nojentas razões da má qualidade dos serviços públicos, onde, na ponta, a sociedade padece.

A preferência por aqueles que têm padrinhos fortes é coisa antiga. Mas, ultimamente, perdeu-se toda a compostura. Todo começo de governo é instalado o malfazejo balcão de negócios onde os governantes, cedem os cargos de sua responsabilidade aos que, independente da qualificação, vêm bafejados por deputados, senadores e vereadores dispostos a fazer parte da podre bancada do “amém”. Nesse jogo, o povo perde duas vezes: a primeira, ao ver os cargos dos órgãos públicos na maioria das vezes exercidos por incapacitados; e a segunda, quando os parlamentares que nomearam sua cupinchada, deixam de exercer o seu dever de fiscalizar os atos do Executivo.

A prática política prostituta é tão acentuada que, nos últimos tempos, é comum o noticiário sobre partidos ou grupos rebelados porque na inaceitável partilha não lhes foi atribuído esse ou aquele cargo no Executivo. Há, até casos, em que os indicados se dão ao direito de cobrar seus padrinhos e com eles brigar quando o resultado não correspondeu à promessa ou encomenda. Descaradamente, em algumas localidades, a desinteligência chegou até às barras da polícia e da justiça.

O “mercadão” de cargos só não é penalizado como corrupção política porque, no Brasil, são seus próprios operadores os encarregados de fazer as leis. Mas quem se dispuser a agarrar um dicionário e procurar o significado de suborno, extorsão, fisiologismo, nepotismo, clientelismo e outros termos do gênero, facilmente verificará que a prática, sem qualquer dúvida, esbarra no Código Penal.

A jovem democracia brasileira deu, no ano passado, exemplo de maturidade ao impor, pela via popular, a tramitação e aprovação da Lei da Ficha Limpa que, apesar das limitações, já retirou da cena política nacional, figuras de alto relevo, que se encontravam comprometidas. Não é demais sugerir que aquelas mesmas forças populares se unam e também consigam fazer passar e vigorar uma legislação mais específica que coloque um fim ao nefasto mercado de influência, cargos públicos e votos parlamentares. Acabar com essa pratica é uma tarefa patriótica e humanitária. Pode até salvar a hoje combalida dignidade da classe política nacional...

*Dirceu Cardoso Gonçalves é Tenente da Polícia Militar e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

MÃO DE ONÇA - LOUCURA E DESEJO

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A EVOLUÇÃO CAPILAR DE TIÃO VIANA

domingo, 28 de novembro de 2010

OPERAÇÃO ESPANTA BANDIDO

Pedro Cardoso da Costa*

De início uma constatação: como está a bandidagem no Rio de Janeiro, só é possível realizar uma Copa do Mundo de futebol e uma Olimpíada se os bandidos consentirem. É fato.

Já as autoridades repetem a cantilena de empáfia ao afirmar de que agora vai! Quantas vezes e por quantos governadores essa frase já foi repetida e ninguém reproduz, nem na mídia. E a guerra está decretada, com algumas medidas diferenciadas nesse enfrentamento no Rio de Janeiro. Embora com muitos erros e algumas ações de puro faz-de-conta.

Começa pela citação de especialistas e de autoridades de que o morro da Vila Cruzeiro é um dos preferidos do tráfico, seu QG, para firmar suas atividades. Ora, se é o preferido, seria elementar que as Unidades de Polícia Pacificadora deveriam ter começado por lá. Se visam mesmo a pacificação, deve-se começar pelos locais mais complexos, até para facilitar a instalações em locais mais fáceis. Já que a nossa imprensa condescendente não pergunta, fica a pergunta ao secretário de Segurança e ao governador do Rio de Janeiro por que não começaram e nem sequer ainda tem a UPP naquele morro. Pergunta para apontar erro de estratégia ou conivência também desse governo, já que está lá há 4 anos e, não fosse reeleito, teria deixado a insegurança pior do que estava quando assumiu.

Mas é alentador que as autoridades colocaram as Forças Armadas nessa guerra. O argumento diversionista de que elas não são preparadas para ações urbanas foi colocado de lado. Que, de fato, podem até não estar, mas não se pode saber se estariam para ações externas, já que estas simplesmente nunca existiram; nem sequer numa ameaça. Ainda que acertada, não é razoável só agora descobrirem que os “caveirões” da Marinha traspassam pregos que sempre impediram a subida da Polícia Militar. Em razão do rabecão da Marinha surgiu a imagem de uma nuvem de bandidos fortemente armados em disparada. Neste ponto a ingenuidade do cidadão comum leva à indagação por que não havia helicópteros blindados, com homens armados, em sentido inverso, para forçar a rendição. Ou...

No dia seguinte, a imprensa noticiava que em dez minutos uma nova operação militar começaria na vazia Vila Cruzeiro. E, de novo, não se entende se as autoridades queriam mesmo enfrentar esse problema ou repetir mais uma encenação que já vem há décadas. Os bandidos teriam fugido para outras favelas do Morro do Alemão. De novo, a palavra volta ao secretário de Segurança e ao governador do Rio de Janeiro: por que iam para a Vila Cruzeiro e não para o Morro do Alemão? A crítica do secretário às imagens das Redes Globo e Record de Televisão responde a uma pessoa menos ingênua.

A cobertura ufanista da imprensa nacional com a presença das Forças Armadas deveria vir acompanhada, ao menos, de citação às repetidas vezes que essas Forças já estiveram no Rio de Janeiro com a violência trazendo o resultado que se constata. Quanto ao “tudo” que o presidente da República prometeu de apoio, seria salutar ressaltar que esse tudo de agora não passou do nada nos oito anos deste governo, que só tem mais um mês de mandato. Aí caberia se questionar se tivesse sido feito um pouco a cada ano, se esse caos poderia ter sido evitado ou amenizado. O enaltecimento do apoio da população causa estranheza por vir do próprio Estado e da imprensa. É só fazer o que deve e como deve ser feito, que nunca faltará apoio. O apoio óbvio à bandidagem era única condição de sobrevivência, e não deveria causar surpresa a quem nunca se fez presente.

Importa, agora, verificar como fazer para evitar o retorno e o crescimento do domínio da bandidagem. Não pode ter recuo. As Forças do Estado devem retirar as armas e passar a régua. Também devem vigiar seus quartéis de onde muitas armas vão parar nas mãos dos bandidos.

Cabe alertar que a quantidade de motos roubadas apresentadas poderia ser conseguida em qualquer cidade que se faça um pente-fino na fiscalização da documentação delas. Especialmente nas pequenas cidades para onde são levadas e negociadas as motos roubadas nos grandes centros.

Deve ter bandido carioca arrependido da ordem para queimar ônibus. Não tivesse feito essa asneira, estariam todos tranqüilos, mandando e desmando nas favelas da Vila Cruzeiro, do Complexo do Alemão, como estão noutros morros. Agora, falta só a Rocinha, outros morros, os condomínios de luxo e toda a cidade. E os outros estados deveriam seguir o exemplo.

Mesmo que a intenção tenha sido fazer uma Operação Espanta Bandido, as imagens de fuga com milhares de fuzis exibidos e as circunstâncias levaram a uma Operação Efetiva que, por mais cômodo que seja, não há mais possibilidade de recuo do Estado.

*Pedro é de São Paulo e Bacharel em Direito.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

HILDEBRANDO PASCOAL

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

OXI - A NOVA DROGA QUE DOMINA O ACRE

"Uma nova droga. Uma ameaça aos brasileiros. Provoca alucinações, paranóia e cria dependência com rapidez e poder de destruição jamais vistos. Uma droga que não para de entrar em nosso país. Fronteiras expostas. Corrupção. Omissão. Que ameaça é essa? O oxi ainda é pouco falado. Praticamente desconhecido pela maioria. À primeira vista inofensivo, logo mostra sua verdadeira face. Seus efeitos são devastadores. Age no organismo em poucos segundos. Debilita, enfraquece. É capaz de levar o usuário a cometer ações impensáveis. De onde ele vem? Do que é composto? Como é processado? Quem produz? Quem são os traficantes? Qual é o mapa do oxi?

Em busca de respostas, desembarcamos em um dos estados mais distantes do Brasil. Bem-vindos ao Acre, uma das principais fronteiras abertas do território brasileiro. Paraíso dos seringuais e também porta de entrada para o tráfico de drogas. Aqui, ficamos diante de uma realidade assustadora. Encontramos histórias de jovens, mulheres, inocentes, vítimas da nova droga. Os relatos surpreendem. Depoimentos impactantes."

Confira a reportagem de Roberto Cabrini e sua equipe em quatro partes.










*A sinopse foi extraída do Blog "Conexão Repórter", hospedado no site do SBT.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

ED MOTTA - CASO SÉRIO

terça-feira, 9 de novembro de 2010

“SEM RECUAR... SEM CAIR... SEM TEMER...”.

Heloy de Castro*

Passado o susto de advertência da população, no pleito eleitoral no Acre, o futuro governo acreano promete, segundo a imprensa, nomes do secretariado pra já. O atual que sai comemora o Dia Nacional da Cultura sancionando a lei do Sistema Estadual de Cultura, mas, no todo, já passam 12 anos de PT no poder e a cultura no Acre, de fato, não tem muito o que comemorar. Mudou alguma coisa mesmo? Que mudança? A pergunta se faz resposta.

Repetindo os velhos vícios da política local, em que predomina uma mentalidade não só imune como hostil a verdadeiras mudanças, podemos vislumbrar mais um quadriênio em que a cultura terá menos ainda o que comemorar, pois se não houve promessas de campanha, haverá o que fazer? Ou melhor: o novo governo, em estado de descompromisso pré e pós eleitoral, fará o que bem entender?

Sem ouvir a comunidade cultural, como deveria, antes e, principalmente, depois do pleito, ignorando que é constitucional a elaboração do plano plurianual da cultura pelo Conselho, o governo seguirá optando por opiniões próprias e autoritárias, por políticas alheias, inadequadas e ilegais, quanto ao que o setor aspira? Seguirá, o governo, com ouvidos moucos?

O Conselho Estadual de Cultura, para melhor contribuir com a idéia de verdadeira participação popular na administração da cultura, criou, em seu Regimento, o poder de indicar, em lista tríplice, nomes para o comando da Fundação Estadual de Cultura. Há quatro anos, a lista tríplice endereçada à atual gestão, após processo democrático de escolha, recebeu, como resposta, a indiferença. No atual momento, a Presidência do CONCULTURA, infelizmente até agora não se manifestou sobre o processo de indicação da lista tríplice, o que esperamos seja feito imediatamente, para que o futuro governo não diga que não sabia da opinião da área cultural.

Nem as políticas de cultura, nem seus gestores devem ser impostos. Agir assim é ferir os princípios constitucionais da democracia, da participação e da legalidade, pois a participação social nas gestões públicas já é imperativo constitucional e legal. A opção pela imposição traz toda sorte de malefícios à gestão, a começar pela indicação aleatória e sem critério do comando, até a consecução de eventos caros e sem resultados efetivamente sociais e culturais...

De tudo, além do alto custo público e do precioso tempo que se perde, há o fomento à mediocridade pelo qual se vê grande parcela da população incapaz da leitura, seja de livros ou da própria cultura. Vê-se em tal postura gestora um crime de responsabilidade geracional, o qual tem condenado um povo à eterna condição política subalterna e de quase nenhuma auto estima cultural.

O Conselho de Cultura tem sofrido desse mal também. A grande evasão das boas mentes ali verificadas bem se explica: ninguém quer participar de um conselho de faz-de-conta. Estão ali cidadãos que exigem o respeito a que tem direito. É lamentável que ainda se criem leis para não serem cumpridas e que não seja garantido seu cumprimento por quem deveria.

A classe artística, sem visibilidade ou reconhecimento, de modo geral, vai se tornando descrente e indiferente às promessas e discursos que se acumulam sem maiores resultados. Não desejamos que os que persistem no Conselho sejam derrotados pelo cansaço e que só resistam os que não acreditam (apenas se aproveitam pessoalmente da situação), os que têm pouca noção do processo e os oportunistas que ao fim não têm legitimidade representativa.

Com leis, eventos e silêncios nosso estado é um prodígio da gestão cultural e educacional democráticas: enquanto o governo propaga a noticia de que possui a melhor educação do país, inexiste em seus quadros licenciados em artes, nem sala de aula voltados para a arte-educação. Sem falar que todos os seus espaços culturais como galerias, teatros, bibliotecas, museus, rádios e TVs educativas são geridos sem a participação e controle popular e sem os especialistas da área. Enfim, tem uma série de outras coisas inexplicáveis que pode tudo dizer, menos que há efetivamente políticas culturais e educacionais de qualidade.

Diante desse quadro, que exige firme posicionamento social mais do que um silencio conivente, nós produtores culturais, que abaixo assinam o presente manifesto, exigimos do governo eleito que não tenha medo da democracia e que abra as portas do poder para a participação popular na área cultural, sem recuar a legislação da cultura, sem cair em gestão participativa faz-de-contas, e sem temer os artistas e a cultura

Cleber Moura
Lenine Alencar
Dinho Gonsalves
Regina Cláudia
João Veras
Clenilson Batista
Dalmir Ferreira
Laélia Rodrigues
Heloy de Castro
Écio Rogério
Cia. Visse e Versa

Outros virão......

*Heloy é cantor e compositor.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

HAIR - AQUARIUS

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

REDES SOCIAIS E ELEIÇÕES EM 2010

Murillo de Aragão*

Finalmente, a internet e as redes sociais tiveram um papel mais relevante nas eleições brasileiras. Porém, como bem disse Pedro Doria em artigo no Estadão (31/10/10), ninguém venceu na rede. O empate entre os candidatos nesse meio de comunicação revela que, no limite, as redes sociais não favoreceram ninguém nem foram decisivas para o resultado final.

O Brasil de 2010 ainda é um país em que a penetração da internet é baixa, apesar da vocação do brasileiro para a rede e do seu potencial de crescimento explosivo. Sendo assim, não houve qualquer episódio nas redes que modificasse de modo claro e decisivo as tendências do processo eleitoral. No futuro, no entanto, não deverá ser assim.

Alguém diria, de pronto, que a campanha de desinformação em torno de Dilma Rousseff e o tema do aborto podem ter-lhe roubado votos na reta final do primeiro turno. Mas o estrago causado pela ação na web foi bem menor, por exemplo, que a maciça cobertura da mídia eletrônica em torno do caso Erenice Guerra.

A situação seria diferente se tivéssemos um empate técnico, no qual “detalhes” como as redes sociais poderiam pender em favor de um ou de outro candidato. Ao pontuar tais aspectos volto a dizer que a internet e as redes sociais foram importantes, mas não decisivas.

A campanha teve aspectos interessantes ligados à internet e às redes sociais e que merecem destaque. O fato que mais me chamou a atenção foi o uso do twitter na mobilização da militância partidária e de simpatizantes dos candidatos. No caso brasileiro, é o que importa: mobilizar enormes contingentes eleitorais em favor de uma candidatura. O twitter também serviu para informar eventos e antecipar direções. Em especial, para repercutir as prévias das pesquisas, abundantemente comentadas na rede.

Um segundo fato é que o uso da internet na disseminação da informação teve no anonimato o seu pior e mais perverso aspecto. Nesse sentido, alinho-me a Arthur Schopenhauer, que dizia que o anonimato serve para tirar a responsabilidade daquele que não pode defender o que afirma. O anonimato na internet é um grave problema que termina por minar a própria credibilidade do meio. No futuro, vejo a credibilidade das redes sociais sendo avaliadas por seu grau de transparência.

Na prática, o Código Penal não vale na internet e, de forma esperta, alguns grandes sites e redes se escudam nas legislações mais complacentes do mundo para não atuar de forma enérgica contra a prática de crimes que envolvem a honra.

Aos românticos, o anonimato tem um doce sabor libertário. Quando se está a favor, tudo é lindo e maravilhoso. Porém, quando se é vítima de difamação e calúnias é como sofrer de bullying sem saber a identidade de seus agressores e sem ter a quem reclamar.

Como há complacência nas redes, poderemos ter, como efeito colateral, ações restritivas no âmbito regulatório. Não devemos esquecer que vai haver uma discussão sobre o marco regulatório da internet no Brasil. Eleitoralmente falando, a questão é importante, já que no futuro as redes sociais e a disseminação de informações por outras mídias terão peso ainda maior para a construção de tendências e, claro, para a definição de resultados eleitorais.

A internet será, cada vez mais, o meio de informação da cidadania sobre tudo e sobre todos. Não necessariamente na forma tradicional de acesso a sites. Vejo que a explosão de recursos, como o twitter, por exemplo, tende a ganhar destaque. A partir da experiência eleitoral de 2010, partidos, políticos e Justiça Eleitoral deveriam debater intensamente a questão com vistas às próximas eleições.

*Murillo de Aragão é cientista político (O texto foi extraído do blog do Jornalista Ricardo Noblat)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

QUEM SABE FAZ A HORA

Moisés Diniz*

A divulgação dos números sobre o referendo jogou um balde de “me desculpe” no ímpeto de alguns políticos acreanos que tentavam “partidarizar” a disputa entre os dois fusos. Os números de cada município indicam causas mais “naturais”.

O cúmulo da “esperteza política” atingiu o ápice quando se tentou vincular a disputa para governador ao debate sobre fusos. Quando Tião Viana (PT) perdeu a eleição em Rio Branco, não faltou “cientista político” para explicar a derrota à luz da disputa entre fusos.

Agora sai o resultado do referendo e os números demonstram que o povo votou sob outra lógica, apegado a outras razões.

Em Acrelândia, aonde Tião Bocalom teve uma vitória estrondosa, o povo votou a favor da manutenção do fuso atual. Que vexame! Em Rio Branco, aonde Tião Viana perdeu a disputa, o fuso empatou.

Em todos os municípios do interior, à exceção de Acrelândia, o resultado é praticamente o mesmo: o povo quis a volta do velho fuso. Independente do voto dado a Tião Viana ou a Tião Bocalom.

O Juruá votou em Tião Viana e no velho fuso

Nos municípios do Juruá, aonde Tião Viana venceu, o povo pediu a volta do velho fuso. Cruzeiro do Sul tem uma diferença de 28 minutos a mais em relação a Rio Branco, por isso que lá o início das aulas foi empurrado pra frente em uma hora, no lugar dos 30 minutos do resto do Estado.

No vale do Tarauacá, por exemplo, Tião Viana disparou para governador, mas o velho fuso ganhou na mesma proporção. Lá, Bocalom teve 35% dos votos e o NÃO que ele pregava teve 69%. O povo de lá gostou mais do velho fuso do que dele.

Em Jordão, Bocalom teve 35% dos votos e o velho fuso, que ele defendia, obteve 64%. Em Feijó, Bocalom teve 27% dos votos e o velho fuso obteve 63%. Em contrapartida, Tião Viana teve praticamente os mesmos votos dados ao velho fuso.

Como dizia um índio lá no Jordão: “ Bocalona, até tua voz é chata. Nós queremos o velho fuso, mas não queremos tu”.

Naquela região, os números do velho fuso são iguais aos números de Tião Viana para governador: acima de 60%. Os números do fuso não levaram em conta os votos para governador e presidente, a filiação do prefeito local ou os discursos dos políticos.

Ainda houve quem vinculasse os votos dados ao deputado Flaviano Melo (PMDB) ao projeto do referendo apresentado por ele. Os números mostram Flaviano Melo tendo uma votação estrondosa em Rio Branco, aonde o fuso empatou, fraca nos municípios aonde o velho fuso venceu disparado e forte nos municípios aonde o PMDB governa.

O eleitor urbano está mais propenso a mudar o fuso
O povo votou olhando para os ponteiros do seu próprio relógio. Há ainda uma clara evidência de que, quanto mais urbanizado o município, mais votos pelo novo fuso.

Entre Rio Branco que empatou e municípios que unificaram altos percentuais pela volta do velho fuso há, ainda, um conjunto de municípios, mais urbanizados, que tiveram uma diferença menor entre os dois fusos, como Cruzeiro do Sul, Quinari e Plácido de Castro.

Santa Rosa, como peculiaridade, teve diferença pequena entre os dois fusos. É que a sua população indígena, majoritária, não está muito interessada em ponteiro de relógio, com os seus bancos, transações comerciais e grades televisivas. Ela olha o nascer e o pôr do sol.

Mas aqui, como em outras urnas indígenas de outros municípios, os povos indígenas votaram em solidariedade ao homem das cidades, com as suas necessidades vinculadas a um fuso mais próximo de suas atividades laborais e financeiras.

Eu ouvi o Biraci Yawanawa dizer: “qualquer um desses fusos não interessa a nós aqui nas aldeias. Mas, se o novo fuso ajuda a vida do homem branco, nós vamos votar pelo 55”.

O que se destaca nesse referendo é a nulidade dos políticos em questões que não lhe dizem respeito. O povo votou do jeito que quis, fez a sua própria propaganda e disse que o fuso não é do governo e nem da oposição.

Outro fato a se destacar: foi a primeira luta aberta entre intelectuais e empresários. Os primeiros foram mais eficientes e, além do mais, vinham de uma militância de dois anos contra o novo fuso.

De parte dos políticos da Frente Popular, houve uma forte acomodação, medo e falta de solidariedade à Tião Viana, autor do projeto que mudou o fuso. Eu não ouvi uma palavra de apoio das dezenas de líderes da FPA.

O povo decidiu não dar carona aos políticos
Parte da oposição, com muita desqualificação, pegou carona no movimento de intelectuais e jornalistas. Virou papagaio de pirata num movimento que defendia tudo que esses políticos abominam.

Imagine que na terra de Bocalom, urbanizada, com mais 70% de suas florestas devastadas e constituída de “imigrantes da madeira”, o novo fuso teve vitória estrondosa. Logo Acrelândia, para ser o símbolo de que os políticos de oposição não interferiram em nada nos resultados do referendo.

Essa eleição de 2010, incluindo o fuso horário, me lembra a disputa de Feijó, quando os grandes líderes da oposição achavam que tinham elegido Dindim a prefeito. Veio 2010 e os números desmontaram a tese.

O referendo sobre o fuso horário serviu ainda para desmascarar um discurso de dois anos: “que Tião Viana desrespeitou a vontade popular e seria penalizado por causa disso”. O povo votou diferente.

“Então Jesus disse: Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. E o povo falou: “nós queremos o nosso velho fuso de volta e queremos o Tião Viana governador”.

Agora é seguir os ponteiros do relógio!

*Moisés Diniz é deputado estadual (PCdoB/Acre)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

E A HORA?

Em matéria veiculada no periódico A Gazeta, desta terça-feira, 2, o Senador pelo Acre e Governador eleito Tião Viana (PT-AC), não citou ou não foi questionado sobre o resultado do referendo do último domingo, que deu o direito da população do estado escolher a volta do horário antigo votando no “Não”. A Frente 77, contrária ao horário atual, recebeu 184.478 votos (56,87%), enquanto a Frente 55, favorável a manutenção do fuso horário, recebeu 139.891 (43,13%) dos votos válidos.

Viana foi o autor da lei que que mudou a hora do estado em 2008. Os relógios tiveram que ser adiantados em 1h. A diferença para Brasília que antes era de duas horas, passou a ser de 1. No horário de verão, a diferença que era de três horas, ficou em duas.

O jornalista, que não assina o material feito com o homem que será o administrador do Acre a partir do 1 de janeiro, “bateu papo” sobre os resultados das eleições na esfera nacional e local, sem ao menos citar o referendo na reportagem.

O único ponto interessante é quando Tião Viana diz que o “Acre foi injusto com o presidente Lula”, em relação a derrota esmagadora da presidente Dilma Rousseff (PT) para o tucano José Serra. O PSDB obteve 69% dos votos válidos no estado.

E depois dizem que o referendo não foi político.

Confira o material completo .

SKID ROW

sábado, 30 de outubro de 2010

O BRASIL DE SERRA E O BRASIL DE DILMA

Como seria o Brasil governado pela petista Dilma Rousseff? Como seria o país governado pelo tucano José Serra? Quais são as reais diferenças entre eles? Quem tem as melhores ideias para o país, as propostas mais viáveis para o desenvolvimento social e econômico, os encaminhamentos mais interessantes para os grandes desafios, como a educação, o pré-sal, a infraestrutura? Na atual campanha, o melhor caminho para encontrar respostas para essas perguntas simplesmente não existe. Seriam os programas de governo de cada concorrente. Apesar das promessas, eles não foram divulgados nem pelo PT nem pelo PSDB até a semana passada, a pouco mais de dez dias do segundo turno.

Confira a análise completa elaborada pela revista Época.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

"TODA UNANIMIDADE É BURRA"

Fabio Pontes*

Andando pelas ruas de Rio Branco tenho perguntado aos cidadãos como votarão no próximo dia 31. Não me refiro ao duelo entre Dilma e Serra, mas sobre uma decisão que afetará diretamente nossas vidas.

No segundo turno das eleições teremos a oportunidade de decidir como fica nosso horário: se voltamos à tradicional menos duas horas em relação a Brasília, ou se fica assim, menos uma hora.

De antemão já digo meu voto: irei digitar 55 e dizer que quero que o nosso fuso fique como está.

Mas infelizmente esse não é o desejo da grande maioria da população. Os acrianos votarão para que o Estado volte a como era.

Confesso que até há bem pouco tempo essa era minha opção. Mas analisando o caso como um todo, decidi mudar. Lá no começo, quando nos enfiaram goela abaixo essa mudança, também não aceitei, e achei a não consulta da vontade popular um descalabro.

Mas passados dois anos fica a pergunta: Retroceder por quê? Está certo que no começo foi muito dificil nos adaptarmos. Afinal, era quase um século em que estávamos a duas horas atrasados ante a capital federal. Esse fator, para alguns patriotas fervorosos, era motivo de glórias por o Acre ser o único Estado da federação com essa característica.

Mas como o patriotismo é o último refúgio dos canalhas, essa ideia não me atrai. Se lembra de que no horário de verão ficávamos três horas atrasados do resto do país? Vivendo quase que em um outro Brasil, refugiados num atraso maléfico.

Hoje a grande maioria da população já se acostumou ao novo horário; nem nos lembramos mais de como era. Até a natureza também está adaptada. Agora quem desperta mais cedo percebe que o relógio e o giro da terra estão sincronizados.

Agora aproveitamos melhor o nosso dia. Dá tempo de chegar em casa, após pegar um trânsito daqueles, e assistir o Jornal Nacional ou a novela das sete - de curtir a família, amigos...

O comércio também fica aberto até mais tarde. Quem sai do trabalho pode fazer aquela comprinha de última hora. Enfim, o Acre já funciona entorno do novo fuso horário. Como diz a propaganda, estamos mais integrado ao Brasil - saímos (um pouco) da ilha do atraso.

Devemos manter esse avanço. Pra frente é que se anda. Muito mais do que seguir a grande maioria da população, aqueles que, assim como eu, acreditam que o melhor é o 55, devemos nos mobilizar para que o Acre não retroceda, mas avance. Nem sempre a voz do povo é a voz de Deus; porém, toda unanimidade é burra.

*Fabio Pontes é jornalista do jornal A Gazeta e blogueiro. Acesse aqui o blog 'Na íntegra'