terça-feira, 21 de outubro de 2008

O PUXA-SACO

Estudiosos da evolução do homo sapiens estão preocupados com o que chamam de "desvio psíquico momentâneo de comportamento". Segundo esses estudiosos, o sujeito acometido por tal desvio apresenta uma reação súbita de carinho e devoção por uma pessoa desconhecida, estranha ao seu meio, de hierarquia social mais elevada e sem qualquer vínculo de consangüinidade. Para os estudiosos, esta espécie de homo sapiens comumente é encontrada nas repartições públicas, nas empresas privadas e até mesmo nas melhores e piores famílias. A repartição pública é o lugar preferido deste tipo de homo sapiens, onde também se reproduz aos borbotões, fato que despertou o interesse de sociólogos - estes sujeitos que estudam os grandes fenômenos sociais - em pesquisá-los, culminando em dezenas de dissertações de mestrado e doutorado, sendo chamados por eles carinhosamente de puxa-saco. Doravante, utilizaremos o nome difundido pelos sociólogos - puxa-saco - para analisá-lo cuidadosamente, tendo como base os artigos publicados recentemente na revista de ciências humanas "The Cientific Globe Human", editada pela Universidade de Princetown, EUA.

Em artigo publicado na aludida revista, em janeiro de 2003, o sociológo árabe Said Min Kaharalho, especialista em puxa-saco, alertou os administradores públicos e a sociedade em geral sobre a existência de diversos tipos da espécie espalhados pelo mundo. Said Min listou algumas características que acompanham o puxa-saco desde os primórdios da humanidade. Segundo o eminente sociólogo, o puxa-saco tem uma forma peculiar de se adaptar ao meio em que vive, por mais adverso que lhe seja, fruto de uma linguagem universal, legada por diversos ancestrais, transmitidas por meio de parábolas, reunidas no livro "Carinho e Devoção Sem Exigência de Afetividade Mútua", uma espécie de manual do bajulador, escrito no século IV a.C; o cérebro do puxa-saco é muito pequeno, fato que dificulta seu raciocínio para tarefas que exijam certas habilidades, tais como: andar de bicicleta, jogar dama, brincar de amarelinha etc; o puxa-saco geralmente é um sujeito solitário, não tem amigos, isto explica o fato de o mesmo dedicar-se a alguém que não conhece com uma fidelidade canina; o puxa-saco não se irrita com facilidade, talvez seja o indivíduo menos estressado da sociedade moderna. No entanto, caso alguém cometa algum desatino contra seu tutor que quanto maior o grau de hierarquização de alguém dentro de uma esfera de poder, maior será o grau de bajulação de um puxa-saco; o puxa-saco não prima pela fidelidade, apegando-se abruptamente ao sucessor de seu superior hierárquico no momento em que este mais precisa de sua devoção. Essa característica fez o cientista observar que "a fidelidade canina do puxa-saco é relativa, dependendo do osso que lhe derem para roer". Concluindo o seu artigo, o sociólogo Said Min nos brinda com as seguintes observações: a maioria dos puxa-sacos é formada por homens; as mulheres que são puxa-sacos costumam dormir com seus superiores; as pessoas mais idosas são as que menos ligam para bajulação; existem pessoas que se eternizam como puxa-sacos nas repartições públicas; o desvio de comportamento que acomete o puxa-saco é hereditário; o puxa-saco geralmente é muito inseguro quanto ao seu futuro; e, por último, todo puxa-saco é arrogante.

Os puxa-sacos já são considerados a pior praga do século XXI. E Não há como exterminá-los, pois se você mata um, existem tantos outros na fila de espera. Segundo um marxista ortodoxo, existe um exército de reserva de puxa-sacos tão grande nas repartições públicas brasileiras que daria para povoar a Amazônia. Sua capacidade de reprodução é tamanha que alguns cientistas estão substituindo os ratos de laboratório por puxa-sacos.

Os críticos podem até menosprezar a capacidade de um puxa-saco, mas nunca irão retirar uma das qualidades máximas do mesmo: a dedicação à família. Talvez por isso Nelson Rodrigues tenha comentando com tamanha convicção que "geralmente o puxa-saco dá um marido e tanto".

Frederico Passos, do site A garganta da serpente.

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