segunda-feira, 14 de junho de 2010

PERU SEM MISTICISMO

*Diego Gurgel

Começar uma viagem internacional sempre é uma decisão cheia de cuidados e muito cálculo. É sempre difícil sair do país quando pensamos em dinheiro, e na burocracia envolvendo passaportes e vistos.

Uma opção pra quem quer simplicidade na hora de atravessar fronteiras e conhecer uma das sete maravilhas do mundo é o Peru, país vizinho que está ao alcance até mesmo por terra.

Esta viagem é feita pelo trecho conhecido como corredor viário interoceânico sul. Começando a viagem desde Rio Branco, pegamos a BR-317 e chegamos à Assis Brasil, onde passamos pela primeira "barreira burocrática": a alfândega, onde devemos declarar equipamentos eletrônicos, como laptops e câmeras digitais com seus respectivos números de série.

Os registros comprovam que os objetos são os mesmos que entraram e que podem voltar na bagagem sem ameaças de eventuais confiscos.

Vale lembrar que excedendo seu valor de compra que é de US$ 300,00, algo em torno de R$ 570, é preciso pagar as devidas taxas, chegando a 50% do valor daquilo que ultrapasse o limite.

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Burocracia de entrada - Percorreremos mais alguns quilômetros até Iñapari, onde encontraremos a primeira barreira fiscal do lado peruano e onde devemos descer e fazer os trâmites legais de entrada no país, que envolve carimbos e autorizações.

Um detalhe importante: não é necessário apresentar passaporte para entrar. Basta apresentar sua identidade, desde que ela tenha sido expedida até dez anos atrás.

É muito importante que você faça esse processo. Caso contrário, você pode pagar multas altas nos hotéis por onde passar, e nas pior das hipóteses, ser mandado de volta para o Brasil.

Uma dica importante: essa é a hora de trocar seus reais pelos soles, pois vai ser difícil alguém aceitar sua moeda brasileira a partir daí.

Primeira "parada" - Após percorrer mais 2 horas e meia, chegamos à Puerto Maldonado, cidade pacata, com bons hotéis e restaurantes e uma ótima opção para fazer a primeira parada e recarregar as baterias, depois de uma jornada de ao menos 560 quilômetros desde Rio Branco, atravessando o rio Madre de Dios de balsa.

Um detalhe interessante no Peru é que todos os estabelecimentos possuem placas indicativas de que ali é um lugar seguro em caso de tremores de terras.

Já alcançamos metade do caminho até Cuzco. Mas é a partir desse ponto que os níveis de dificuldade aumentam.

abalos sismicos
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em obras puerto maldonado
puerto maldonado

Podemos afirmar que atravessaremos o ponto mais crítico -- a cordilheira dos Andes, onde há o único pedaço não asfaltado do trecho Puerto Maldonado-Cuzco.

Vários aspectos devem ser analisados ao se planejar atravessar os Andes de carro. Entre elas está a potência do motor, atingido de forma implacável pelo oxigênio rarefeito. O veículo diminui a força na hora da subida, na mesma proporção em que suas forças também são minadas no chamado "mal da altura". Sensações de desconfortos respiratórios não são mais raros.

Embora a estrada tenha um trecho não asfaltado, isso não significa que você irá ter problemas com atoleiros, já que esse pedaço, de aproximadamente 50 quilômetros, é feito todo de cascalho, com algumas pontes, e homens trabalhando ao longo da estrada. Nada assustador.

trechoasfalto antes dos andes
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"Subindo" os Andes

Passando por esse trecho, começamos a "subir", passando por vilarejos humildes e pacatos. Iremos percorrer 510 quilômetros até Cusco, um caminho sinuoso, e com asfaltamento impecável, assim como toda sua infra-estrutura de drenagem e sinalização, deixando o viajante bem tranqüilo.

estrada andes e vilarejos
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Um dos sintomas que indicam que estamos subindo, são pequenos estalos no ouvido, respiração ofegante, às vezes uma leve tontura, mas nada que comprometa seus reflexos, uma vez que a velocidade não alcança os 60 km/h no trecho montanhoso. Você perceberá também que seu veículo não responde bem à potência real do motor, uma vez que ele precisa de oxigênio para o bom funcionamento, e o ar começa a ficar rarefeito.

Depois de alcançar até 4800 metros de altitude, começamos a descer as montanhas em direção à cusco. Até lá, o visual é de tirar o fôlego, literalmente, com montanhas altíssimas que mais parecem ter saído da tela do cinema.

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pachacutec_cuscoEnfim, Cuzco - Chegando à lendária cidade de Cuzco nos deparamos com uma estátua de pachacutec. Vale lembrar que para viajantes mais extremos, há possibilidade de fazer esse trajeto (Rio Branco-Cuzco) de uma só vez, sem grandes esforços.

Cuzco tem aproximadamente 300 mil habitantes e é rodeada por montanhas. Os peruanos são muito receptivos, e em Cuzco já estão acostumados a receber turistas. Portanto, não será difícil achar hotéis, ou até mesmo "hostales", termo usado para designar o que chamamos de hospedarias.

Os valores variam de 50 soles a 380 soles, se você deseja ficar em hotéis temáticos, com chá de coca e balão de oxigênio, na recepção, e internet e aquecedores, nos quartos.

Você não terá problemas para ser compreendido pelos peruanos se conversar devagar e com gestos.

Uma curiosidade que você encontrará no Peru: toda cidade tem uma praça de armas. Na de Cuzco se encontram todos os turistas, pessoas chegando à cidade, mochileiros, várias línguas sendo faladas, pessoas oferecendo serviços como city tours, passeios para o vale sagrado de Macchu Picchu, ruínas incas, convites para boates, trigo para os pombos e até massagem!

plaza de armas centro de cusco
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Passeios e lugares místicos - Você poderá fazer todos os passeios que Cuzco oferece, dependendo da sua disposição. O que se sugere é que você gaste pelo menos quatro dias pra conhecer tudo.

O mais simples é o city tour, que custa em média 15 soles. É um passeio de sprinter (Van), pelos locais tradicionais de Cuzco, com um guia narrando histórias e datas históricas a respeito de Cuzco e sobre a chegada do conquistador Pizarro e seus feitos.

O mais cobiçado quando se fala de Cuzco é a cidade sagrada de Macchu Picchu. O que muita gente não sabe é que Macchu Picchu fica em Cuzco.

Esse passeio pode ser feito em 24 horas, indo num dia e voltando no outro. É possível ainda fazê-lo inteiramente à pé pela famosa trilha inca.

Esses passeios variam muito de valor, podendo chegar a até US$ 500 dólares, cerca de R$ 950.

Outro passeio, considerado um dos mais importantes, é o que leva ao Vale Sagrado, conjunto de cinco cidades que possui impressionantes ruínas. Este pode ser feito em um dia apenas.

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Se você quer visitar algumas ruínas sem gastar muito, você pode ir de táxi mesmo, partindo da praça das armas e subindo até o Cristo Branco, um lugar de onde você observa a cidade inteira de Cuzco do alto. O pacote inclui as ruínas de Saqsayhuaman, onde acontece a Festa do Sol, o Inti Raymi.

Tudo isso custa apenas quatro soles, no mais caro. Se você pedir ao taxista que espere para o retorno, o custo é de oito soles.

Um detalhe importante: se você quiser adentrar a esses locais, você precisa de um passe, chamado de passe turístico e que custa 70 soles. No caso do passeio alternativo de táxi, o turista só paga o taxista.

Se você gosta de fotografar, Cuzco é cheio de surpresas, como os próprios moradores.

As igrejas são de arquitetura barroca européia e incaica e artistas de rua, feiras, e belezas naturais podem ser uma opção de diversão.

arquitetura barroca europia
arquitetura barroca europia
catedral plaza de armas
fontes e monumentos plaza de armas cusco
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Culinária e artesanato - Não é difícil perceber que os peruanos adoram frango com batatas, o chamado Pollo con papas (se pronuncia pôlho).

Mas como Cuzco é cosmopolita, você encontra as cozinhas incaica, italiana, francesa, brasileira, e também redes de fast food famosas, como a MacDonald's, por exemplo, que em Cuzco foge do padrão mundial, tendo desenhos Incas no seu interior. Ali, o Mac Chicken, um dos lanches mais comuns da rede, é chamado de "Pollo Classic".

Um prato muito exótico e tradicional é o Cuy, que é um parente do porquinho da índia.

Sua apresentação não é das mais agradáveis, mas é muito delicioso quando bem preparado.

Também é muito comum você encontrar feiras de artesanato ao ar livre, que exibem vestuário local feitos de alpaca, os chullos, que são colares e jóias muito bem feitos e bem tradicionais.

As "cholas" carregam sempre suas lhamas ou alpacas para que você tire fotos, pagando o valor simbólico de um sol.

Noite cuzquenha - A noite de Cuzco é bem animada para os que são da "balada romântica". Para os casais a cidade se torna um prato cheio, sobretudo àqueles quem procuram um passeio ao ar livre.

Mas se você caminhou demais e se sente cansado, com dores de cabeça, pode aliviar os sintomas tomando pílulas para "Soroche", como é chamado o mal da altura, ou mesmo tomando o chá de coca.

Após conhecer a cidade de Cuzco e suas maravilhas no entorno, é hora de arrumar as malas e partir para Puno, cidade onde conheceremos o lago Titicaca, o mais alto do mundo, com suas ilhas flutuantes, as ilhas de Uros.

Veja mais fotos aqui

*Diego Gurgel é fotógrafo, mas se arrisca, e bem, nos textos jornalísticos.

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