Por Paulo G. M. de Moura
Revista Voto
Um dado intrigante passou despercebido sobre as pesquisas dos institutos Datafolha e Sensus publicadas no início de junho. Segundo o Datafolha, Serra teria caído de 41% para 38% desde o levantamento de março. No mesmo espaço de tempo, Dilma teria crescido de 11% para 16%; Ciro Gomes teria caído de 16% para 15%; Heloisa Helena de 11% para 10%. Brancos; nulos e não respostas teriam permanecido iguais.
Na pesquisa Sensus, a diferença entre Serra e Dilma também caiu. Segundo o Sensus, Serra teria 40,4% dos votos contra 23,5% para Dilma, e 10,7% de Heloisa Helena. Em março, Serra, na mesma simulação, tinha 45,7% contra 16,3% de Dilma. A vantagem anterior, de 29,4 pontos percentuais, caiu, em maio para 16,9 pontos. Na simulação com Ciro Gomes, Serra teria 38,85%; Dilma 22,3%; Heloísa Helena 10,3% e Ciro, 9%. Em março, Serra tinha 38,1%; Dilma 8,4%; Heloísa Helena, 9,4%, e Ciro, 17,4%. Os números do Sensus sugerem que os votos de Ciro estariam migrando para Dilma. Será?
A amostra do Datafolha é mais ampla do que a do Sensus e, no seu levantamento (http://datafolha.folha.uol.com.br/po/ver_po.php?session=882), Ciro oscila um ponto percentual apenas nos três cenários testados.
Até o fim de maio as lideranças tucanas trabalhavam com a idéia de que Dilma cresceria até 30%. O pressuposto dessa retórica era de que Serra não seria abalado. O crescimento de Dilma ocorreria apenas sobre eleitores do PT e de seus aliados à esquerda, na mesma proporção em que a candidata de Lula se tornasse mais conhecida desse segmento do mercado eleitoral.
A novidade no cenário foi o câncer de Dilma. A doença da candidata de Lula, além da quimioterapia, recebeu tratamento de marketing dos estrategistas do PT. O lance parece ter funcionado. Dilma, conhecida pelo perfil frio e racional - como o de Serra, aliás - logrou um trunfo político de valor inestimável para efeito eleitoral, ao tornar pública sua luta contra o câncer. Dilma criou, com isso, um nexo emocional com o eleitorado. Despertou, por essa via, um sentimento de solidariedade que estabelece um vínculo sentimental com seus eleitores potenciais.
Se essa análise está correta, Dilma estaria abrindo uma fissura na parede da represa que retinha os eleitores de Serra acomodados na intenção de voto no tucano. Os tucanos tentaram disfarçar e preocupação, na expectativa de que ninguém percebesse seu problema. Com razão. Não é difícil imaginar o que pode acontecer quando uma pequena fissura aparece na parede de uma represa eleitoral do tamanho dessa que, até pouco tempo, mantinha Serra intacto na liderança das pesquisas.
PS.: Esse artigo foi redigido em 19 de junho passado e somente é publicado aqui agora, pois aguardava a edição de Revista Voto sair às bancas. Depois disso Cesar Maia, em sua newsletter de 23 /06/2009, publicou o que segue:
GPP-BRASIL: SEM CIRO GOMES, DILMA PASSA SERRA NO NORDESTE! IDEOLOGIA NÃO DIFERENCIA PARTIDOS! PAC NÃO MARCA!
Pesquisa GPP-Brasil, de 11 a 14 de junho, com 2 mil entrevistas. Alguns resultados.
1. A pesquisa espontânea inovou e perguntou quem seria o melhor presidente para o Brasil, hoje. Com isso, se testa todo o potencial de Lula. Lula obteve 42%, Serra 8%, Aécio 4%, Dilma 3%, Ciro 1%, H. Helena 1%. Pesquisa com NOMES: Serra 42%, Dilma 17% (entre os que têm até primeiro grau incompleto Dilma tem 8%), Ciro 16%, H. Helena 9%. Extremos. No Sul, Serra tem 52%, Dilma 12%, Ciro 11% e H. Helena 7%. No Nordeste, Serra tem 35%, Dilma 19%, Ciro 23% e H. Helena 9%.
2. Sem Ciro Gomes, Serra teria 46%, Dilma 29%, etc. No Nordeste, Serra teria 37,6% e Dilma 41,4%. Curiosamente, ambos torcem para Ciro não ser candidato. Serra, pelo tipo de campanha que faz Ciro. Dilma, pela imprevisibilidade de Ciro, que poderia atirar na política econômica de Lula, como vem fazendo. Lula quer um plebiscito no primeiro turno. E o PSOL decide em agosto se mantém ou retira a candidatura de HH, para ser candidata ao senado.
3. A pesquisa com nomes pergunta quem seria o melhor presidente para: a) enfrentar a Crise Econômica, Serra 39%, Dilma 18%, Ciro 18%, HH 7%. b) Para enfrentar os problemas de Saúde Pública, Serra tem 51%, Dilma 12%, Ciro 12% e HH 8%. c) Para Segurança Pública, Serra tem 37%, Dilma 12%, Ciro 18% e HH 10%. d) Para continuar o Bolsa Família, Serra tem 34%, Dilma 26%, Ciro 14% e HH 10%. Para continuar o Bolsa Família, no Nordeste, Serra tem 30%, Dilma 29%, Ciro 19% e HH 9%.
3. Você quer votar num candidato do presidente Lula (42%), de Oposição a Lula (20%), Tanto Faz (32%)? No Nordeste, candidato de Lula tem 58%. No Sul, 30%. Quem é o candidato(a) de Lula? Dilma 52%, Serra 8%, Ciro 6%, HH 5%. Não Sabe 29%.
4. Serra x Aécio. Serra 59%, Aécio 25%. Sul: Serra 67%, Aécio 13%. Sudeste: Serra 52%, Aécio 34%.
5. Lula está pior: Saúde 41% (em maio de 2007 eram 23%), Segurança 31% (em maio de 2007 eram 44%), Educação 11%, Economia 6%, etc. / Lula está melhor: Programas Sociais 37% (no Nordeste 47%), Economia 24%, Educação 13%, Obras do PAC 6%, Saúde 5%, etc.
6. Avaliação de Lula: Ótimo+Bom 59% (Nordeste 70% e Norte/Centro-Oeste 68%), Regular 32%, Ruim+Péssimo 9%. / Como Lula está enfrentado a Crise Econômica: Bem 46%, Mais ou Menos 43%, Mal 9%. / Crise afetou o Brasil: Mais que outros países 9%, Mesma coisa 34%, Menos que outros países 51% / E em relação a você e sua família a crise afetou, Muito 19%, Pouco 44%, Nada 35%.
7. Na sua cidade existe alguma obra do PAC? Sim 22% (Norte/Centro Oeste 37%), Não 30%. Não Sabe 48% (Nordeste 54%).
8. Como classifica ideologicamente os partidos. Direita e Centro-Direita: PSDB 28%, DEM 27%, PT 24%, PMDB 31%. / Centro: PSDB 16%, DEM 16%, PT 17%, PMDB 18%. / Esquerda e Centro-Esquerda: PSDB 28%. DEM 24%, PT 33%, PMDB 22%. (Obs. 1: diferença são os que não sabem responder por partido). (Obs. 2: Os slogans direita a esquerda não diferenciam os partidos. Exemplo com apenas Direita: PSDB 19%, DEM 18%, PT 18% e PMDB 21%. Com apenas Esquerda: PSDB 19%, DEM 16%, PT 24% e PMDB 14%).
9. Desses Partidos, quem mais defende a redução de impostos: PMDB 13%, PT 32%, PSDB 13%, DEM 10%. / Quem mais defende os Pobres: PMDB 5%, PT 68%, PSDB 5%, DEM 3%. / Quem mais defende a Classe Média. PMDB 17%, PT 27%, PSDB 24%, DEM 8%.
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