Tiago Oliver*
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No conto do escritor francês Voltaire, Cândido ou O Otimismo de 1759, a personagem que dá título à obra cresce acreditando viver no melhor mundo possível. A Frente Popular quer vender a ideia de que o Acre seja o melhor Estado possível.
Na verdade, esse projeto de reconstrução da cultura acriana da Frente foi colado do Romantismo brasileiro. Qualquer um que tenha terminado o Ensino Médio ou tenha feito o antigo Segundo Grau deve ter estudado que um dos traços essenciais da proposta romântica brasileira era a valorização da natureza. Quem nunca leu a balela chamada Canção do Exílio de Gonçalves Dias? Eu perdoo a sua ignorância. Caso você não saiba do que estou falando, a Canção do Exílio é aquela que diz: Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá, as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, nossos bosques têm mais vida... e por aí vai. Quase 200 anos atrasado, essa Frente se agarra à cantilena de exaltação da floresta e vai inventando um Estado que só existe no discurso.
Enquanto, naquele tempo, os autores se esforçavam para integrar seus personagens à natureza; no Acre, certas personagens intentam trazer a floresta até nós. Se a cidade não vai à floresta, a floresta vem à cidade. Contemplem a carnavalização nos nomes das coisas por aqui: Arena da Floresta, Via Verde, Biblioteca da Floresta, Praça dos Povos da Floresta. Chega a ser enfadonho de tão vazio. Mas é bom para a imagem desse Acre reinventado.
E, nos últimos dias, uma fênix – Hildebrando Pascoal – ressurgiu das cinzas para causar uma mudança brusca no que andava calmo e tão normal. Hildebrando, vestindo uma pele de ovelha, fez uso da autodefesa. Por 5h40m foi o mais inocente dos homens do Acre. Nas palavras dele mesmo: “vítima das mais cruéis formas de vingança”. Isso me leva a crer que esse “mártir” não fez nada mais do que tentar utilizar as armas daqueles a quem considera inimigos. A Frente não usa espingardas, muito menos motosserra. A Frente reinventa a realidade. Essa é uma arma poderosa. E é claro que Hildebrando não sabe utilizá-la. Quem o orientou foi seu defensor, um vira-casaca. Aquele competente falastrão já esteve lá, já bebeu direto da fonte e sabe das coisas.
Hildebrando com certeza voltará a seu devido lugar. Hildebrando representa o atraso. E não há mais lugar para o atraso no novo Acre.
Na obra de Voltaire citada no primeiro parágrafo deste texto. Cândido, depois de ser expulso do melhor dos mundos, depois de “viver nas convulsões da inquietude ou na letargia do tédio”, descobre que só um trabalho nos salva, que é preciso ter um jardim para cultivar e que o mundo... O mundo que siga às mil maravilhas.
* Tiago é professor de Língua Portuguesa.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
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2 comentários:
Adorei o texto, é isso mesmo que acontece com o nosso Acre onde alguns vendem a imagem como se fosse "a terra prometida" como forma de mascarar o que realmente acontece nos bastidores.
otimo texto... parab´ns..
esse "kra" ja me deu aula,
é um otimo professos.
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