Tive hoje um dia ímpar. Depois de meses sem por os pés no Congresso, fui até lá. Às 11h em ponto cheguei. Ao adentrar no plenário, logo me posicionei na bancada destinada aos jornalistas credenciados da casa. Era a sessão solene pelo 20º aniversário do assassinato do líder sindical e ecologista Chico Mendes. Plenário cheio. Deparei-me com pessoas as quais não cruzava há uma década.
Sentado ao lado de meu sócio, Montezuma Cruz, e dos jornalistas acreanos Mariano Maciel e Assem Neto, pude observar, atentamente, um a um daqueles acreanos que não via há uma década.
Ali estavam o Lhé (Abrahim Farhat), um dos fundadores do PT do Acre; a Naluh Gouveia, o cantor Sérgio Souto, o Júlio Barbosa, o Raimundo Mendes Barros, o Raimundão, a viúva de Chico Mendes, Ilzamar, e a filha dele, Elenira.
Bem, diga-se, tinha mais gente do Acre lá no plenário. Mas vou ficar apenas nos acima mencionados.
Reencontrei, também, o jornalista Zeunir Ventura, a advogada Sueli Belatto (em 1990, no julgamento dos assassinos de Chico, ela atuou na acusação junto com Márcio Thomaz Bastos), a Regina Lino. Entre um discurso e outro pude conversar com o Sérgio Souto. Soube que, em 2009, ele vai lançar um novo CD.
Também conversei com o Lhé. Relembramos a época das vacas magras — aqueles tempos, por volta de 1985 — quando o Lhé, o Aníbal Diniz, a Simony D’Àvila (atual primeira-dama do Acre), o Binho Marques, entre outros, vendiam balões na praça Plácido de Castro para arrecadar dinheiro para o Partido dos Trabalhadores do Acre.
Relembramos, ainda, as várias vezes em que o Chico Mendes — após suas andanças pelos seringais e outros Estados — ia até ao jornal implorar por espaço. Sempre atencioso, o editor, o saudoso jornalista José Chalub Leite pedia que um de nós ouvisse ao Chico.
Chico Mendes passava horas a fio na redação. O mesmo fazia o Edmundo Pinto — governador do Acre assassinado em 1992, em São Paulo, e que todas as tardes, desde a época em que era vereador por Rio Branco, passava na redação para distribuir mariolas (cocadas) ‘prá adoçar a boca do povo’, como costumava dizer — e saber das notícias.
O Chico costuma sentar à mesa do Zé, de quem sempre filava um cigarro Free longo. Vez por outra, o Zé aprontava e colocava traques ou uma bala que deixava a língua ‘filador de cigarro’ azulada.
Fiquei eu e o Lhé, no cafezinho do Senado, relembrando esses e outros episódios. Tempos bons aqueles!
Saindo do cafezinho, voltei à bancada da imprensa. Vários oradores já haviam se revezado na tribuna, inclusive a senadora Marina Silva.
Naquele instante, uma moça morena, de sorriso largo, mas de voz embargada discursava da tribuna. Era Elenira Mendes, filha de Chico. Sem dúvida, o melhor discurso. Disse que, passados 20 anos da morte de seu pai, a quem considera “um anjo da floresta”, a luta em defesa da Amazônia não pode parar. E fez um apelo para que, cada um de nós, lute por condições mais dignas por nossos irmãos amazônidas.
Elenira está certa. A luta pela Amazônia não pode, e nem deve parar. O estado brasileiro precisa parar de “jogar para a platéia” e agir enquanto é tempo para evitar que percamos a nossa maior riqueza: a Amazônia.
Viva Chico Mendes! Viva a Amazônia!
Chico Araújo - Agência Amazônia
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