Por Assem Neto
De Brasília, DF
São 243 as famílias identificadas e que precisam deixar a fronteira com o Brasil por imposição do Governo da Bolívia. Outras cerca de 1.500 brasileiros anteriormente listados como “intrusos” não precisarão deixar as suas propriedades. Eles conseguiram comprovar cidadania boliviana ou se casaram com cônjuges bolivianos.
Esse quantitativo foi informado na tarde desta terça-feira aos 8 deputados federais do Acre pelo embaixador Eduardo Grattione, que chefia o Departamento de Comunidades Brasileiras no Exterior do Ministério das Relações Exteriores (MRE). Ele desmentiu o boato de que 60 famílias de brasileiros habitariam a fronteira sob o risco de expulsão.
A partir de agora, segundo sugeriram os parlamentares acreanos, o Itamaraty deverá combater a desinformação que predomina na região, onde os brasileiros convivem com mentiras, ameaças e pressões psicológicas atribuídas, extra-oficialmente, aos desafetos do governo central boliviano, com o qual o Departamento de Pando mantém divergências.
Embora o Itamaraty informe que o consulado itinerante do Brasil está em campo, comovem os depoimentos dos brasileiros ameaçados, que se dizem dispostos a “atear fogo em tudo” ou mesmo “sacrificar a própria vida” em nome de tudo que eles construíram nas últimas décadas ali.
Agrovilas
Um termo de cooperação entre os dois países estabelece 15 de dezembro como o prazo máximo para se concretizar o projeto de agrovilas onde estas famílias seriam reassentadas. Após um consenso diplomático, a Organização Internacional de Migração, com vínculo à ONU, passou a geriu os R$ 20 milhões que o Brasil repassou à Bolívia, por autorização da Câmara dos Deputados, para auxiliar no projeto de reforma agrária boliviano. O embaixador informou que, desse total, cerca de R$ 100 mil já foram gastos, mas ainda não se sabe o formato nem onde será implantado o projeto agrário que absorverá os brasileiros residentes na Bolívia. Sabe-se, apenas, que as regiões, definidas pelos bolivianos, estão além dos 50 quilômetros da faixa de fronteira.
Dúvidas
“Há dúvidas. Muitas dúvidas. Queremos saber quais são estas famílias identificadas, quais os critérios de escolha, como é o projeto das agrovilas e onde exatamente estas pessoas vão ficar”, disse a deputada Perpétua Almeida, que sugeriu a ida do embaixador (ou seu representante) à região para explicar detalhadamente os termos do acordo diplomático entre os dois países. A deputada reafirmou o movimento político formado por deputados estaduais, federais e vereadores do Acre, afim de negociar um prazo de saída dos brasileiros, sem prejuízo aos posseiros que construíram sua vida ali nas últimas décadas.
O deputado Fernando Melo, coordenador da Frente Parlamentar Brasil-Bolívia, se disse satisfeito com as explicações, mas acredita que “é possível, com esses recursos, acomodar as famílias num assentamento gerido pelo Incra, no lado brasileiro”. Henrique Afonso e Nilson Mourão esperam afirmaram que “a Bancada Federal do Acre aguarda por uma saída diplomática rápida”, enquanto o deputado Sérgio Petecão reproduz o que ouviu do chefe da polícia em Pando: ”ele me disse que a ordem do presidente (Evo Morales) será cumprida, num tom de quem está preparado para tudo”.
Flaviano Melo vê uma ação “maldosa” de Evo Morales, que pretende trazer “cocaleiros” a uma região onde, sabidamente, ele não tem votos”. O deputado Gladson Cameli disse que está disposto a envolver os senadores do seu partido, o PP, para articular uma pressão política em favor dos acreanos. O deputado Ilderley Cordeiro observou que a Bolívia “usa de má fé por que impõe taxações aos brasileiros até mesmo na comercialização de pequenos objetos”.
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