quinta-feira, 6 de agosto de 2009

MEMÓRIAS DE UM SOLDADO DE MILÍCIAS

Dirijo-me a vocês inicialmente, escondendo meu nome, pois posso ser punido se descobrirem quem vos enviou isso. Quando estamos em uma universidade somos ensinados a nos mostrar e dizer o que podemos fazer pelo mundo tendo pensamento próprio, mas quando fazemos parte de uma instituição militar, somos apenas número para a população, mas de público venho informar que me incomoda muito, ter que manifestar meu pensamento de forma escondida sem poder mostrar o que penso ou aquilo que sei, gostaria muito de poder participar de uma mesa redonda com o Comandante Geral da PM, com o Diretor Geral da Policia Civil, com a Secretária de Segurança e também com o Governador, pois sou Soldado da Policia Militar do Acre e na graduação inicial dentro desse militarismo absurdo e ultrapassado que existe aqui, temos sempre que estar sendo “comandados” por algum graduado mais antigo mesmo que este, sequer tenha controle sobre a própria residência, muito menos para lidar com uma guarnição e os problemas da comunidade, saber que trabalho em um setor do Estado que se torna igual uma secretaria qualquer do governo, como aquelas que algumas senhoras passam o dia inteiro fazendo as unhas e se maquiando e atendendo mal á população. Trabalho numa instituição que virou secretaria de Estado, e que devido á influencia do Governo,os comandantes se preocupam em somente mostrar uma aparência que não existe,sacrificando muito o policial que realmente executa esse serviço. ESSA NÃO É A POLICIA QUE EU ESCOLHI PARA TRABALHAR.

O Serviço de Radio Patrulha é o que deveria ser mais bem equipado e sempre estar pronto para todas as situações, pois é quem diretamente atende á população, porem o que vemos é totalmente contrário, temos alguns graduados que, comandam guarnições de rua e que fazem questão de se esquivar de atender as situações que são repassadas e quando são questionados sobre suas ações, culpam diretamente seus superiores pelas escalas apertadas, falta de folga e incentivo ao serviço, muitos assumem seus plantões apenas tirando as faltas, sem ter qualquer informação nem sequer da guarnição que estava saindo. Entrei na corporação em um período que serviço de rua tinha respeito e era valorizado até mesmo por aqueles que estavam á margem da sociedade, porém hoje vemos uma situação desesperadora, pois as Radio Patrulhas assumem o serviço apenas com (02)dois componentes e muitas vezes são responsáveis por uma área imensa de patrulhamento, o que está ocasionando um combate mais deficiente ao
crime, fazendo com que o meliante enfrente a guarnição como já vimos muitos fatos relacionados á isso nos noticiários de televisão. ESSA NÃO É A POLICIA QUE EU ESCOLHI PARA TRABALHAR.

Nossos superiores que deveriam nos direcionar sobre as ações operacionais, sequer conversam conosco antes de assumirmos o serviço pela manhã ou á noite, porém, cobrança é o que não falta. A falta de segurança para os moradores do bairro Bosque, por exemplo, onde existe apenas uma “RP” para atuar em toda aquela área e somente durante o dia, pois a noite é inexistente. Quando falamos em noite, consideremos a estatística do serviço noturno, pois após ser obrigatório que o policiamento de Radio Patrulha utilizasse em seu patrulhamento, o GIROFLEX ligado por toda a noite, caíram expressivamente os flagrantes, pois para o Governo é satisfatório ver que a policia está nas ruas, pois são visíveis, porem não existe retorno de ação tendo em vista que também o meliante tem visibilidade com o serviço policial. ESSA NÃO É A POLICIA QUE EU ESCOLHI PARA TRABALHAR.

Ainda falando sobre o serviço de Radio Patrulha, nos foi mostrado um estudo feito por algum oficial prestativo em seus serviços que definia que o melhor policiamento era aquele em que a Radio Patrulha tinha apenas dois componentes, na qual agilizava as atuações e tinha muito mais policiais nas ruas e também viaturas, porém com o passar do tempo, percebemos que a situação complicou-se muito mais, pois agora o meliante acha-se no direito de enfrentar o “Braço Armado do Estado” o que se tornou muito difícil para alguns policiais, pois agora teriam que optar entre enfrentar fisicamente o infrator ou ter que fazer uso de sua arma de fogo, mesmo que esse infrator fosse até um menor, pois a famosa PISTOLA TASER tão falado pelo governo não é pra quem atende ocorrências, e sim para o oficial supervisor e para operacionais do BOPE, porém o governo e o Comandante Geral se esqueceram que esses não atendem ocorrências, não estão de frente com a criminalidade, e quem diretamente atende, ainda não viu a forma de se manusear essa pistola ou sequer pegou na mesma. ESSA NÃO É A POLICIA QUE EU ESCOLHI PARA TRABALHAR.

Após toda essa celeuma sobre o reajuste dos Policiais e Bombeiros Militares do Estado Acre, se é que podemos chamar isso de reajuste, é possível tirar algumas conclusões seguras sobre o nosso sistema de segurança, conclusões essas que passarei a externar justificando meus pontos de vista. ESSA NÃO É A POLICIA QUE EU ESCOLHI PARA TRABALHAR.

Não tenho duvida que segurança nunca foi prioridade para os governadores acreanos, principalmente nos últimos 12 anos. Em razão dessa visão míope dos nossos governantes o Acre atravessa uma grave onda de insegurança. Poucos são aqueles que ainda não foram vítimas da ação de criminosos, que estão cada vez mais ousados e violentos. ESSA NÃO É A POLICIA QUE EU ESCOLHI PARA TRABALHAR.

Enquanto nossas autoridades não cuidam das nossas polícias, não organizam, investem e valorizam os servidores que atuam nessa área, observamos impotente o surgimento de organizações criminosas cada vez mais bem equipadas e organizadas. Até quando nossos governantes vão ficar esperando o surgimento de um PCC da floresta, de um comando verde ou coisa semelhante?
Quando o governo do Acre destina mais de 15 milhões para gastar com marketing e pouco mais de 3 milhões para o órgão responsável para realizar o policiamento preventivo (Polícia Militar) sou forçado a acreditar que esse mesmo governo está mais preocupado em maquiar a verdade do que solucionar os graves problemas que estamos vivenciando. ESSA NÃO É A POLICIA QUE EU ESCOLHI PARA TRABALHAR.

Seguindo-se essa linha de investimentos públicos, com a mais absoluta certeza, o Acre será o melhor lugar do mundo para os donos dos veículos de comunicações e para os criminosos. Os empresários favorecidos com as gordas subvenções públicas e os criminosos enriquecendo devido ao descaso governamental com a segurança dos acreanos. ESSA NÃO É A POLICIA QUE EU ESCOLHI PARA TRABALHAR.

Quando Policiais e Bombeiros Militares vão às ruas para pedir melhoria de salários e de condições de trabalho constata-se que além da falta de valorização profissional esses profissionais não dispõem das condições necessárias para prestar um serviço de qualidade ao povo do nosso Estado. ESSA NÃO É A POLICIA QUE EU ESCOLHI PARA TRABALHAR.

Ainda sobre esse movimento que buscava um reajuste nos salários e que contou com a presença de familiares de militares, centenas soldados, cabos, sargentos e alguns oficiais, nota-se claramente que o assessor político do governo tratou de armar uma vingançinha contra àqueles que participaram do “movimento”. Quando elaborou a tabela de “reajuste” salarial o governo concedeu quase 30% para os coronéis e tenentes coronéis, já para o restante da tropa o reajuste foi inferior aos dois dígitos. ESSA NÃO É A POLICIA QUE EU ESCOLHI PARA TRABALHAR.

Com a efetivação dessa tabela salarial discriminatória o governo deixa claro que não tem intenção nenhuma de valorizar ou reconhecer o trabalho da tropa. O reconhecimento veio somente para aqueles que estão sentados atrás de uma escrivaninha e dentro dos gabinetes.
Está claro ainda o motivo pelo qual o governo desprezou majores, subtenentes e 3º Sargentos. Justamente esses postos e graduações são os mesmos dos principais lideres da AME/AC. Não tenho dúvida que essa foi mais uma forma de perseguir aqueles que ousaram buscar melhorias para nossos Policiais e Bombeiros Militares. O assessor Francisco Nepomuceno, “Carioca”, ainda tentou se justificar dizendo que essa diferença foi motivada para corrigir antigas distorções. Tal afirmação equivocada não encontra amparo na verdade, não resistindo a mais singela analise. Basta olhar a tabela para perceber que ela não corrigiu nada, apenas criou um abismo entre os coronéis e tenentes coronéis e o restante dos militares. Essa “negociação” salarial serviu para mostrar a face desse governo e suas reais intenções para os Militares Estaduais. Além da perda de direitos conquistados sobrou ainda cadeia e miséria para a tropa. ESSA NÃO É A POLICIA QUE ESCOLHI PARA TRABALHAR.

É bom salientar que nós Policiais Militares, não buscamos luxo ou mordomias, não temos planos de saúde e nossos filhos não estão matriculados em escolas particulares, não queremos incluir no nosso cardápio filé ou caviar.
Queremos somente viver e dar um pouco de conforto para os nossos dependentes. Por eles é que sacrificamos nossa mirrada folga e até mesmo a saúde trabalhando nos “bicos”. Eles merecem muito mais. Todos os dias, quando saímos pra trabalhar, nos despedimos das nossas famílias sem saber se ao final do serviço vamos poder retornar para os nossos lares. Sem saber se vamos ficar presos nos quartéis pela decisão inquestionável de um comandante que não estava conosco na ocorrência. Sem saber se vamos ser denunciados pelo MP ou se vamos voltar vivos. E isso tudo ainda não é suficiente para compensar os muitos momentos de ausência em razão da nossa missão.

A policia que eu escolhi para trabalhar teria que ser assim:

-Todo policial deveria ter um salário adequado para viver com sua família evitando serviços extras de segurança, também com condições de trabalho, incluindo armamento apropriado, viaturas preparadas, cursos de capacitação e escalas adequadas.
-Receber informação de seus superiores e seus pares sobre o serviço anterior ao seu plantão, sabendo como estava a cidade.
-As audiências na justiça contassem como serviço e que fosse respeitada a devida folga ao policial quando este fosse em audiência judicial.

*Recebi esse e-mail anônimamente.

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