Por Régis A. Paiva
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As vezes penso em ficar calado e não mais me meter em política. Mas as coisas acontecem e eu não aguento.Assim, preciso me manifestar sobre este comentário de José Dirceu (PT): "Marina foi eleita pela luta de dezenas de anos da esquerda, de Chico Mendes; pelo apoio que recebeu de Jorge e Tião Viana e da militância do PT, já que a resistência dos madeireiros e daqueles que queriam avançar sobre a floresta e contra seus povos criou uma rejeição à sua candidatura mesmo entre o eleitorado popular", afirmou Dirceu, influente ex-dirigente do PT.
Sou do Acre. Nunca votei em Marina e a conheço desde antes de ser vereadora (seu primeiro cargo eletivo). Somos da mesma Universidade (UFAC). Nos conhecemos, mas não somos amigos.
Eu me lembro dela lutando pelo nanico PT dos anos 80, quando todos eles não lotavam o velho fusca do deputado federal Nilson Mourão (PT). Lembro daquela morena esganiçada em um caixote preso no alto de uma Brasília velha, onde ela se equilibrava precariamente, a qual estacionava em frente das paradas de ônibus urbano para a moça fazer sua propaganda para vereadora. Vi depois ela ser eleita deputada estadual e ser catapultada para o Senado. Não concordo com muita coisa que ela diz ou prega. Não sou de seu partido e talvez nem vote nela (ou em qualquer dos outros) para presidente.
Mas não posso admitir que um cidadão do porte atual de José Dirceu venha a criticar a senadora e dizer que o mandato é do PT e que foi o apoio do Jorge e Tião (os temidos "Irmãos Viana do Acre") e dos militantes que a elegeram. Não posso admitir a comparação entre ela e estes senhores.
Antes dos irmãos Viana se bandearem da ARENA/PDS para o PT, Marina já lutava e enfrentava o cartel dos Seringalistas no Estado. Seringalistas de onde os irmãos Viana vieram. A isso deve ser somado o fato de que neste começo do PT no Acre sequer havia militância.
Quando Jorge Viana surgiu para o mundo da esquerda, Mariana já era vereadora e conhecida. Quando aquele perdeu uma eleição, ela foi eleita a deputada estadual mais votada no Estado. Quando Tião perdeu para governador, Marina foi eleita a senadora mais votada. Quando Jorge cehgou ao governo, ela era senadora.
Assim, o PT deve o seu crescimento ao nome de Marina e não o contrário. Foi graças às suas idéias que o partido cresceu. Talvez por isso seja mesmo a ora dela sair e buscar um retorno às raízes, a ideologia, algo que os irmãos Viana destruíram no atual PT acreano. Enquanto ela lutava para viver em um Estado miserável, os irmãos estudavam fora e se locupletavam com as benesses do poder.
Marina é maior que eles (Vianas e o próprio PT acreano). E este é o grande medo deles. Jorge quis ser ministro de qualquer coisa. Marina foi. Tião quis ser presidente do Senado. Marina é cotada para ser presidente da República.
Chico Mendes, que também conheci pessoalmente, foi amigo de Marina, mas não dos Vianas. Se vivo fosse, talvez não tivesse o mesmo moral que hoje esta moça desfruta em todo o país, embora sua morte tenha ajudado a promovê-la. Chico é ícone. Marina é fato. E isso não conseguem engolir.
O Partido da Imprensa Golpista (PIG) agora deve começar a denegrir a imagem dela, como tem feito em outros casos semelhantes. Para isso deve se valer dos famosos assassinatos de reputação, principalmente no Acre onde não há imprensa livre (exceto na internet). Mas agora é tarde e, ao contrário de “Inês é morta”, Marina vive. E pode trazer muito dissabores àqueles que a subestimaram. Principalmente por não ter apego aos cargos. Se ainda é aquela que conheci nos tempos de graduação na UFAC, tem ideologia e brios.
Desculpe o desabafo, mas achei ser necessário. Assim, boa sorte companheira Marina nessa sua nova empreitada. E se você não se eleger, saiba que sempre será lembrada como a companheira que lutou o bom combate e se posicionou ideologicamente. O mesmo não se pode dizer dos que hoje (e amanhã) lhe atacam.
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