domingo, 25 de outubro de 2009

NEM SEMPRE É FÁCIL ESSE OFÍCIO

Nayanne Santana*

Eu não ando muito animada nos últimos dias. Por isso, nem tenho feito postagens no blog. Acredito que esse cansaço seja causado pela correria do dia.

Mas, essa semana foi “trash” e diante dos fatos decidi tascar os dedos no teclado e soltar o que estava preso.

Hoje, vou falar sobre aquilo que mais me chocou desde que estou atuando como repórter: a morte do professor Marcos Afonso.

Acho que jamais me esquecerei do momento em que meu telefone tocou e do outro lado da linha ouvi o meu amigo Gilberto Lobo dizer: Não tenho uma notícia boa pra te dá. O professor morreu!

Ainda me lembro da sensação. Não há coisa pior do que ter que noticiar coisas ruins, acreditem. Mas pior ainda foi saber como aconteceu o crime.

Para ter mais informações sobre o caso liguei pra Lenilda Cavalcante e ela, que tem mais de 15 anos de jornalismo policial ,estava chocada.

Não foi fácil editar o jornal e escrever uma matéria tão triste e com fatos tão bárbaros. Cheguei em casa ainda em choque por tudo que ouvi sobre o crime e não consegui dormir.

Pela manhã fui organizar as idéias e vou colocar minhas conclusões sobre tudo isso aqui.

Um show de incompetência

Pra mim, a polícia deu um show de incompetência. A arma do crime estava o tempo todo dentro da casa do professor. Local que ele foi morto e enterrado vivo!

Pior ainda foi ver o diretor-geral da polícia civil agradecer a Deus pela elucidação de um crime. Sinceramente, Deus não queria ver um filho dEle sendo morto com tanta crueldade, e certamente não queria ver uma polícia tão incompetente que não investiga o local inicial de um crime.

O mais obvio, a meu ver, seria levar as testemunhas do caso a casa do professor e constituir a dinâmica do crime, ou seja, cada testemunha diria onde estava e o que fazia na hora que os bandidos chegaram ao local para roubar o veículo do professor.

Se a polícia tivesse se dado ao trabalho de ir a casa e investigado o local teriam visto uma faca, uma pá e um buraco com terra mexida. (Vale ressaltar que toda vez que alguém mexe em qualquer quantidade de terra a parte que sofreu interferência tem tonalidade diferente da parte que não foi tocada, qualquer criatura sabe disso).

Mas, para decepção de todos nós a polícia foi pífia e não fez o obvio. Apenas isolou o local e seguiu com as investigações do portão da casa para fora.

Crueldade exacerbada

O infeliz que matou Marcos Afonso conhecia a vítima há três anos, presta serviços para a vítima.

No momento em que ele e os outros dois bandidos foram apresentados a imprensa ele ainda esboçou um sorriso que me apavorou.

Como pode meu Deus alguém ser tão cruel?

Aquele infeliz enterrou um homem vivo, ainda agonizando, pedindo vida e depois de tudo isso teve capacidade de participar de uma churrascada e de bebedeira, sem demonstrar menor arrependimento do ato brutal que cometeu.

Essa não

Pior ainda, foi ver colegas de imprensa cumprimentando o diretor-geral, apertando a mão da autoridade e dizendo: Parabéns.

Parabéns? Como assim?

O cara fez a obrigação dele. Nós, contribuintes, pagamos pelo serviço que ele prestou com muitas falhas e deficiência, porque demoraram mais de 72 horas para achar um corpo que estava debaixo das “barbas” dele.

Um JORNALISTA tem que fazer a sua matéria, ir pra redação e narrar os fatos do que é notícia aos cidadãos.

Desculpem, mas na minha opinião, não é função de jornalista algum puxar-saco de qualquer autoridade para ficar “bem na fita”. Até porque atitudes como essa tiram a moral de qualquer profissional e o deixa limitado para que em situações posteriores possa fazer críticas ao mau desempenho de qualquer autoridade.

Pena que eu sei que isso sempre vai existir e a ética da categoria sempre estará posta a prova por causa de comportamentos como esse.

Eu me envergonho e lamento ter que admitir que sempre haverá pessoas com esse tipo de conduta.

* Nayanne é jornalista e escreve suas verdades aqui.

Um comentário:

FRANCISCO COSTA disse...

Gosto quando vc cutuca seus textos com fortes opiniões. Já tava sentindo saudade deles. Mas não seria novidade que a Cúpula da Segurança do Acre, seria incompetente pra resolver esse caso. Eu já tinha previsto que eles não avançariam. No Acre é melhor morrer sem ir ao hospital, e procurar a policia!