sábado, 23 de abril de 2011

VOCÊ É LINDA

sexta-feira, 22 de abril de 2011

VAMOS FALAR DE EDUCAÇÃO?

Sergio Santos*

Vamos falar de educação. Mas não vamos falar do velho discurso de que o país só vai evoluir quando tiver educação de qualidade, pois isso é um clichê, embora mantenha ainda o valor de verdade. Vamos falar sobre o que as pessoas – principalmente os governos – pensam sobre educação.

Não sou um homem velho, tenho apenas 30 anos; mas me sinto, muitas vezes, antigo – e podem dizer alguns até antiquado. Sou do tempo em que a Educação (vou grafá-la com maiúscula por respeito e devoção) podia até não valer tanto, mas era feita com certa responsabilidade. Hoje, contudo, vejo que ela, assim como as estradas, são meras possibilidades para promessas de políticos que não estão, e nunca estiveram, interessados em “revolucionar” (desculpem a palavra próxima) porra nenhuma.
Sou de uma época em que o professor, mesmo sem o “grande salário” de hoje, era uma figura respeitada; seu ofício nos fazia até relembrar os velhos filósofos que se distinguiam dos outros pela importância que tinham. Educação já foi, em áureos momentos, a transmissão do conhecimento, o enriquecimento da alma do sujeito, a construção do indivíduo, o prazer pelo ofício primeiro das profissões. Se ninguém vai ao pai senão pelo filho, ninguém vai à profissão senão pelo professor, que é o responsável por parte da construção do indivíduo, pela formação mesma de suas ideias, de seu comportamento, de sua posição diante dos fatos do mundo. Pode parecer romantismo didático, mas o professor tem uma importância fundamental na vida de cada indivíduo que passou pelos bancos de uma escola.

Entretanto, vejo com muita desolação a forma como tem sido tratado o professor hoje em dia. Dizem – pelo menos por aqui – que ele tem um bom salário. Mas quem disse que é isso que faz do professor um profissional realizado? Se a remuneração fosse a mola propulsora do indivíduo que passa no mínimo 4 anos fazendo uma faculdade para exercer o ofício de professor, ele já teria mudado de profissão, pois há outras que pagam muito melhor. A escolha da profissão está inegavelmente na paixão em ensinar – se alguns estão lá não por isso, devem ser infelizes ao dobro dos que sofrem por essa paixão.

Os governos acreditam que Educação se faz com bons salários e escolas bonitas. Ledo engano, queridos, Educação se faz com profissionais respeitados e valorizados. O respeito está em aceitar o que o professor diz, em acreditar nele, em aceitá-lo com ele é, sem querer que ele seja como o poder quer que seja. A liberdade do professor é tão fundamental quanto o da imprensa. Contudo, no Acre, não se tem visto nem uma coisa nem outra. Pergunte a qualquer professor da rede estadual e municipal se ele se sente livre para exercer o seu ofício. A resposta será unânime: “Temos de fazer o que nos mandam”. E o que eles – os governantes mandam? Ora, a resposta é simples: “Melhorem os números!”

Ah, os números! Será que vivemos na era matemática? Provavelmente! Pelo menos é o que se tem sentido por essas bandas daqui. O que passou a ser Educação foi a estatística. Hoje, não interessam – talvez só ao professor – se as pessoas estão aprendendo alguma coisa, se estão se dando conta de quem são, se percebem o mundo que as cerca. Hoje só se fala em número: foram alfabetizados tantos, tantos entraram na universidade, tantos milhões foram investidos na educação, tantas escolas foram feitas. Vivemos a era da Educação midiática, pois os dados são expostos nela, como se refletissem de fato a qualidade necessária para a formação do cidadão. Para tanto, criam-se programas de Educação para “arrumar” os números e “corrigir” a vergonha de um estado com tanta gente sem diploma. Poderiam economizar muito se só entregassem os diplomas, sem a necessidade de expor professores e alunos a situações degradantes como a farsa da Educação para jovens e adultos.

Dirão que sou contra educação de jovens e adultos e direi: não sou contra, sou a favor de Educação de qualidade para todo cidadão brasileiro, sou a favor do respeito por todos aqueles que pagam o maior tributo do mundo, sou a favor da valorização da construção do indivíduo, que precisa ser educado para poder se defender nesse mundo cada vez mais cruel e descarado. É ridículo pensarmos numa educação de qualidade quando os professores são obrigados a ensinar todas as matérias para os alunos, sendo que este profissional passa no mínimo 4 anos se especializando numa área para poder ter domínio do seu ofício. É ridículo “eles” – e todos sabem quem são eles – exigir que o professor não reprove ninguém, pois a “nova pedagogia” não mais assim e tal. A “nova pedagogia” uma ova! Não sabem nem o que é pedagogia. Falando sério: quem é “deles” que de fato entende de educação? Vamos ainda mais longe: quem “deles” tem filhos matriculados em escolas públicas? Na verdade, a maioria dos filhos “deles” nem estudam no Estado. Isso é a prova definitiva de que nem “eles” acreditam mais na Educação que tanto defendem.

Hoje, ao conversar com ex-alunos, deparo-me com a situação ridícula de professores recém-formados que não conseguem mais vagas para trabalharem no Estado ou nas prefeituras. Qual será o motivo? São vários, mas destaquemos dois: primeiro, a necessidade de dizer a todos que, por mais que eles (os professores) agora tenham diploma, quem manda ainda são “eles” – aqueles que sabemos quem são; segundo, para que contratar profissionais capacitados se não “eles” querem pessoas capacitadas? O certo é que hoje o Acre tem uma enxurrada de professores formados e sem empregos, mesmo depois que o Governo, em parceria com a Universidade, tenha lhes oferecido Nível Superior. Há algo a se acrescentar: pagar professores formados para trabalhar na zona rural, por exemplo, custa caro. Se é para ensinar no meio da mata mesmo, que pague a qualquer um! Esse é o pensamento visível “deles”.

Poderíamos falar ainda mais sobre Educação, mas paremos aqui para refletir sobre o que foi dito, sé o que foi dito servir para reflexão. Mas, enquanto as coisas não mudam por aqui, façamos cada um a nossa parte, lutemos sempre.

*Sergio Santos é professor de Língua Portuguesa na UFAC e, nas horas vagas, é escritor

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A TRAGÉDIA CONTEMPORÂNEA, A NOVA FORMA DE DIVERSÃO

Sergio Santos*

Que o ser humano tem tendência natural para a tragédia, isso já é sabido, mas andamos exagerando ultimamente. Se não bastassem os terremotos, os tsunamis, as enchentes, e todos os fenômenos naturais que assolam o mundo, estamos investindo duramente em novas formas de tragédias, como os assassinatos, os saltos de pontes, os assassinatos em massa de crianças indefesas. A impressão que se tem disso tudo é que antes – talvez isso sejam sensações dos saudosistas – não havia tanta violência. Violência sempre houve. Basta lembrar a saga de Cristo e do extermínio de milhares de pessoas nesse mundo por várias questões, principalmente as religiosas. Sem deixarmos de falar das guerras, das pequenas às grandes, das que duraram meses, das que passaram dos 100 anos.

Estamos travando novas guerras, as individuais, pois lutamos conosco mesmos, fazendo de quem está próximo o nosso inimigo, como se já não bastassem os inimigos que não conseguimos combater, como a fome, a má educação, os impostos, o preço da gasolina, as filas nos hospitais públicos – porque não tem mais valido a pena pagar plano de saúde – , o cinismo de alguns políticos. Talvez essas guerras que travamos, fazendo surgir novos criminosos, aconteçam porque não conseguimos lutar contra o que nos é mais forte e invisível, o tal sistema, que nos iguala em deveres, mas nos distingue em direitos, pois ainda sabemos que o dinheiro é a forma mais prática de poder. Se isso é um motivo, não sei ao certo, mas preciso encontrar uma resposta para tanta tragédia. E nessa luta em que nos defendemos de algo que nos assusta sem necessariamente sabermos o quê, agimos com tanta violência, que assustamos a nós mesmos.

Quando abrimos os jornais diariamente, não conseguimos mais somar a quantidade de crimes – muitos bárbaros – , como o rapaz que foi esfaqueado tantas vezes, o homem que foi “alvejado” com não-sei-quantos tiros, ou o rapaz que sumiu nas águas do rio Acre. Pior que saber dos fatos, é vê-lo, pois as imagens aterradoras estão expostas na internet. Aliás, falando de internet, que instrumento maravilhoso para apreciarmos de perto a tragédia humana. Antes, restringíamos a ver uma foto em preto e branco da carteira de identidade da vítima. Agora, vemos a própria ferida, como as “rosas cálidas” do poema do Vinícius. Nossos olhos brilham diante das imagens nossas de cada dia, pois estamos nos acostumando a vê-las, fazendo delas um objeto de desejo, assim como faziam os expectadores das tragédias gregas. Essas eram inspiradas nos deuses e tinham um certo ar de sublime, de superior, de maior. As nossas não! São humanas e reais. As medeias se espalharam pelo mundo, e os Apolinices não necessariamente apodrecem ao relento, mas são expostos tal qual o irmão de Antígona, morto em combate por poder. Se Creonte, na obra de Sófocles, pune o atrevido Apolinices deixando seu cadáver exposto para que se visse sua degradação – a visão mais aterradora do ser humano – , nós clicamos para ver essa cena se repetir diariamente, fazendo com que percamos o medo ou não sintamos mais náuseas. Tudo isso muito provavelmente porque “a dor dos outros não sai no jornal” – o Chico tava certo. Talvez se a dor saísse nas páginas dos jornais ou nas imagens da internet, não nos tornaríamos expectadores de tanto horror.


Hoje, caminho – e quando caminho – com medo de ser mais uma personagem das novas tragédias. Sei lá! De repente alguém pode achar que sou feio para o padrão vigente e me “alvejar”, aliás, verbo que já faz parte das nossas vidas, assim como a expressão “os populares”, que equivalem aos expectadores das cenas, se não no momento de ocorrência, pelo menos segundos depois dela. Uma coisa é certa: gostamos mais de ver a desgraça alheia do que mulher pelada ou um famoso no auge de sua fama. Basta passarmos perto de algum acidente ou crime para vermos a quantidade de pessoas que cercam a cena e se deliciam com a sensação do visto ao vivo. Parece até a música do Mílton em cuja letra se lê que “o artista vai onde o povo está”. Nesse caso é o espetáculo que vai atrás do público, visto que as tragédias diárias acontecem a todo instante e tem sempre expectadores a postos.

Poderia ainda falar muito sobre o nosso lado trágico, do nosso prazer pela dor alheia. É, tornamo-nos sádicos sem sequer saber quem foi Sade. Mas prefiro parar por aqui e refletir sobre o que vem pela frente – pedindo a Deus que nos permita estar vivos para ver ou para nos fazer perder o gosto de ver tantas desgraças. Seria muito bom se conseguíssemos nos emocionar mais com uma medalha olímpica do que com os tiros que alvejaram fulano de tal – e quando falo de emoção falo da emoção do prazer, porque a emoção do medo e do terror já não conseguimos mais sentir. É isso!

*Sergio Santos é professor de Língua Portuguesa na UFAC e, nas horas vagas, é escritor

segunda-feira, 4 de abril de 2011

PATETÃO

Após alguns meses sem atualizar este blog, retorno com o flagrante do jornalista Altino Machado, feito neste domingo,3, ao me fotografar na Pizzaria do Patetão, localizada as margens da Miami Beach Tupiniquim , contemplando (irado) bêbados que se acham a última bolacha do pacote de Miragina com seus carros de som no volume máximo. É de lascar.

Só mesmo sendo um pateta para continuar ali.