Raimundo F. de Souza *
Misturando farinha de mandioca, adoçante dos tipos açúcares branco ou mascavo, ou mel, limão e água, cria-se uma iguaria denominada de jacuba ou chibé. Quem conhece jacuba não desconhece chibé, quem ingeriu chibé se alimentou com jacuba, quem prepara um bom chibé domina a receita de uma boa jacuba e, em situação de crise, pode se tomar chibé no almoço e jacuba no jantar. A intenção não é rimar, o objetivo é demonstrar que chibé e jacuba servem para alimentar, são pobres em nutrientes, mas a fome podem enganar.
Conforme se pode observar, tudo depende do pensar, uma ou duas palavras na rima pode encaixar e o desenrolar da história só depende de enrolar. O papel aceita tudo, até lorota de iletrado, quem sabe juntar as letras, inventa qualquer babado, e o leitor desavisado, na maioria das vezes despreparado, fica meio abirobado, com todo esse leriado. Mas nessa oportunidade estou falando de coisa séria: quem ainda não comeu jacuba deve provar o chibé. A receita para uma pessoa, quer saber como que é? Começa com um copo d’água, os outros ingredientes são dosados na colher.
Por que estou falando isso? Poderia falar de caviar ou, no mínimo, de filé ao molho não sei lá das quantas, mas, se ninguém falar dessa iguaria tão insignificante para burguesia, porém utilitária e que não surgiu na cultura popular por acaso, mas sim, por necessidade, muita gente deixaria de conhecê-la culturalmente ou mesmo como estratégia e recurso que os menos favorecidos utilizam para se manter vivos.
A dor ensina a gemer, a fome ensina a comer (qualquer coisa), quem come jacuba não é porque gosta do sabor, mas sim, para sobreviver. Nesse mundo dos mortais, onde tudo é tão fugaz, seria bem diferente se todos usufruíssem as oportunidades iguais. Todavia, o que se constata, nessa sociedade abastada, são esnobismos escancarados, visando exclusivamente os bacanas serem notados, mas esse é o ritmo da vida. Quem detém o poder, seja político ou econômico, mesmo sendo desajeitado, pode até posar de bobo, que o povo acha engraçado. Comandar os acontecimentos em qualquer situação, além de impressionar os súditos desprotegidos, é alvo de admiração.
Quanto aos Zé-Goiabas, alimentados à base de chibé, sendo ser humano da mesma estirpe, porém sobrevivendo só na fé, podem achar muito divertido esse espetáculo sem coerência, todavia, podem ficar revoltados e partir para a violência.
Não obstante, venhamos e convenhamos, se todos os seres humanos fossem desprovidos dos mesmos atributos de aparência, da mesma capacidade intelectual, das mesmas condições econômicas e imbuídas do mesmo poder de comandar, política e administrativamente, acreditamos que a convivência e a sobrevivência seriam muito chatas. Ou seja, todos saboreando caviar ou jacuba, e nas farras, quando ficassem bêbados, certamente seriam todos de uma só vez, onde se pode deduzir que todos seriam chatos ao mesmo tempo e não haveria ninguém para encher o saco.
* Raimundo é Professor. O texto foi extraido do Jornal Página 20.
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